Em um artigo sob o título “A atual crise energética no Brasil e seus impasses estruturais” escrito durante a sua gestão como coordenador de Energia da Secretaria de Minas o Professor Fernando Alcoforado da Escola Politécnica da Universidade Federal da Bahia ao observar o andamento dos investimentos na área de infraestrutura energética no Brasil, diagnosticava antes da virada 99/00: “… até a virada do século, o consumo dos dois principais energéticos brasileiros (o petróleo e a eletricidade), deverá mais do que duplicar em relação ao registrado em 1985…”. Avisava ainda que as metas da ELETROBRÁS e da PETROBRAS para o ano 2000, poderiam ser inviabilizadas pela falta de recursos financeiros em nível de implementação efetiva dos investimentos para adequação da estrutura ao sucesso dos projetos. Segundo ainda o Professor, a “captação dos recursos através da adequada elevação de preços de derivados de petróleo e de tarifas de energia elétrica, encontra como grande obstáculo a necessidade de barrar a inflação que ameaça a economia brasileira”. Com todo respeito ao Professor, eu tomo a liberdade de adicionar uma motivação política inspirada em um projeto populista ideológico míope e ultrpassado.
Em outro estudo importante sobre o setor energético encomendado a Tendência Consultoria Integrada pela Câmara Brasileira de Investidores em Energia Elétrica em 2003, ao pegar carona no racionamento de 2001 para também analisar as causas estruturais do déficit energético acumulado, faz aparecer um destaque um pano de fundo preocupante. Ao ao longo do estudo fica evidente o nosso exercício cultural por excelência: A prática da ação tardia e alheia a considerações técnicas, ou, traduzindo para o português do dia-a-dia, a mania de resolver os problemas na hora em que surgem, “dando um jeitinho”. Nesse estudo ficam evidentes alguns itens componentes de um histórico recente que da suporte a “teoria do jeitinho” a que me refiro. Na análise das condições que pressionaram a administração pública a adotar o racionamento de 2001, ficou patente que além da ausência de chuvas, outra variável que contribuiu para a piora da situação, foi o desequilíbrio estrutural entre oferta e demanda no sistema elétrico que se desenvolveu durante a década de 90. Ou seja, nos anos anteriores ao ano 2001, a oferta não acompanhou a demanda. A Engenharia trabalha (ou pelo menos deve trabalhar) mantendo uma relação favorável à preservação do funcionamento do sistema mediante a manutenção de um patamar de folga entre o que é ofertado e o que é consumido. Analisando a relação entre oferta e consumo no período que vai de 1990 até 2000, o estudo demonstrou que a partir de 1996 o consumo começou a superar o nível da energia assegurada. A falta de investimentos frente a uma demanda crescente em função do aumento do consumo, fez com que a “gordura” reservada para os dias de estiagem fosse “queimada” como estoque regular para o consumo do dia a dia. Essa situação é que explica o agravamento da escassez de energia em consequência da estiagem. Ou seja, novamente em português do dia-a-dia, a falta de chuva só trouxe a piora do que já “estava no talo”.
O problema na sua conjuntura mais ampla não é simples e tudo indica que não haverá jeitinho que nos livre do apagões vexatórios. Que Deus nos ajude, pois seguramente vamos precisar.
Feliz Ano Novo!
RFERENCIAS:
1. Alcoforado, F; A atual crise energética no Brasil e seus impasses estruturais; Revista Brasileira de Energia, Vol. 1| N° 2, disponível em www.sbpe.org.br/socios/download.php?id=14 acessado em 07/01/13 às 22h20min;
2. Tendência Consultoria Integrada; Setor Elétrico Brasileiro: Cenários de Crescimento e Requisitos para a Retomada de Investimentos; disponível em http://www.maternatura.org.br/hidreletricas/biblioteca_docs/EstudoCenarios-CBIEETendencias.pdf acessado em 07/01/13 às 22h20min;
3. Imagem: http://www.ecodebate.com.br/2009/09/01/geselufrj-afirma-que-o-modelo-energetico-brasileiro-nao-valoriza-energias-renovaveis/ acessado em 07/01/13 às 22h09min;