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Bando de Teatro Olodum: “Além de Leno Sacramento e Garlei Souza, quantas outras vítimas inocentes poderiam ser atingidas?

14/06/2018 | às 21h49

“Além de Leno Sacramento e Garlei Souza, quantas outras vítimas inocentes poderiam ser atingidas por essa ação desastrosa? Como se sente alguém que está na linha de tiro?”, diz manifesto do Bando de Teatro Olodum anunciado, nesta quinta-feira (14), durante coletiva de imprensa sobre o episódio em que um dos atores do grupo foi baleado por policial civil nesta quarta-feira (13), no Centro de Salvador.

Leno entra em cartaz em julho com o espetáculo En(cruz)ilhada que fala do genocídio do povo negro. FOTO: Rodrigo Veloso

Informações preliminares recebidas pelo Correio Nagô ontem (14) davam conta que o tiro havia atingido de raspão a perna de Leno Sacramento. No entanto, este Portal foi informado hoje (15) pelo Bando que o tiro atravessou a panturrilha de Leno, versão também confirmada pelo próprio ator em uma rede social. Leno foi socorrido, levado para o Hospital Geral do Estado e recebeu alta. Porém à noite, além das dores, havia sangramento no local do tiro, sendo levado à emergência do Hospital Português.

Nesta sexta-feira (15), o ator prestará depoimento na 1ª Delegacia Territorial (DT/Barris).

O espetáculo En(cruz)ilhada – protagonizado por Leno e que aborda o genocídio do povo negro – está previsto para ser encenado no Teatro Vila Velha no início de julho, mas dependerá da recuperação do artista.

SOLIDARIEDADE

Leno Sacramento e Garlei Souza contaram com a solidariedade de diversas lideranças e ativistas sociais, tanto nas redes sociais quanto pessoalmente, hoje (14), durante a coletiva de imprensa no Teatro Vila Velha, onde os dois estiveram, mas não se pronunciaram.

Coletiva de imprensa do Teatro Vila Velha reuniu jornalistas, ativistas sociais e amigos de Leno e Garley. Foto: Donminique Azevedo

RACISMO INSTITUCIONAL

“Leno está psicologicamente muito abalado. Todos nós estamos. Assim como foi com Leno poderia ser comigo. Poderia ser com qualquer pessoa negra que estivesse naquele momento, naquele local, com a aquela situação. O que a gente precisa deixar claro é que usar sandália, usar bermuda, usar dreads, usar tatuagem, ter a pele negra não é sinônimo de suspeito para atuação policial”, destacou advogado que acompanha o caso Cleifson Dias.

“O racismo é bastante radical, nos matam todos os dias… A nossa posição é que o Bando de Teatro Olodum, enquanto instituição jurídica, possa fazer uma ação que responsabiliza o Estado. Não cabe à Ouvidoria, à Defensoria, recomendar nenhum outro procedimento”, orientou a socióloga e ouvidora geral da Defensoria Pública do Estado da Bahia Vilma Reis, durante a coletiva de imprensa.

De acordo com Cleifson Dias, essa responsabilidade institucional será buscada. “A gente tem uma legislação que fala sobre isso, não só nacional como internacional. Então, uma ação que vai desembocar em uma perspectiva racista não somente se perfaz a partir de uma declaração, mas também de um modus operandi, da forma como uma certa instituição funciona”, explicou.

“Não dá para aceitar a redução ao caso pontual, óbvio que a solidariedade nos mobiliza. Mas nós não podemos perder de vista que esse episódio não é absolutamente exceção, não é um caso isolado e não pode ser resumido à responsabilidade da punição pontual do agente segurança que efetuou o disparo. Nós queremos a responsabilidade da Secretaria de Segurança Pública, do Governador do Estado, nós queremos pôr no debate público a política de segurança pública genocida”, chama a atenção o professor de Direito da Universidade Federal da Bahia Samuel Vida.

Veja na íntegra o manifesto do Bando de Teatro Olodum:

Manifesto do Bando de Teatro Olodum

Donminique Azevedo é repórter do Portal Correio Nagô.

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