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Embaixador da Etiópia fala sobre relações com o Brasil

Entre os dias 21 e 23 de novembro último, aconteceu no Complexo de Sauípe, na Bahia, o I Encontro África e Diáspora Africana, criado para estimular a continuidade do diálogo intercontinental entre a África e sua diáspora e promover mais cooperação para o desenvolvimento entre seus principais componentes. O Correio Nagô esteve presente no evento e fez uma série de entrevistas com várias personalidades que desempenham papel importante nesse cenário. A  entrevista  a seguir é com o Embaixador da Etiópia no Brasil, Wuletaw Nigussie, que falou sobre uma série de iniciativas do governo etíope em relação a projetos de empresas brasileiras e o potencial turístico do país, que tem tudo para crescer com a recente inauguração da linha comercial da Ethiopian Airlines.

 

Correio Nagô – Que tipos de acordos foram feitos nos últimos anos entre a Etiópia e o Brasil?

Wuletaw Nigussie – Foram nove acordos assinados nos últimos três anos, especialmente na área de ciência e tecnologia e na análise de educação e desenvolvimento, agricultura e pesquisa, serviços aéreos dentre outros. Foi estabelecida uma comissão conjunta, de um fórum de consultoria política e acordo para liberação do visto diplomático. Existem outros acordos com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e a Agência Brasileira de Cooperação, envolvendo o Instituto de Agricultura Etíope manejo de solo, irrigação e manejo florestal. A Etiópia recebeu os presidentes Lula e Dilma em épocas diferentes e discutiram a relação bilateral entre os países. A presidente Dilma assinou vários acordos. Há uma intenção entre os países africanos e países como o Brasil se declararam em prol de estabelecer normas de segurança alimentar na África até 2025.

CN – Em termos de acordos comerciais que ações a Etiópia está desenvolvendo atualmente?

WS – A economia etíope é a terceira que mais cresce no mundo hoje. Nos últimos dez anos, o nosso PIB cresceu 11.6% impulsionado especialmente por setores como a agricultura, negócios e indústria. Existem muitas semelhanças entre as culturas agroecológicas da Etiópia e do Brasil, então qualquer tipo de tecnologia ou sementes que sejam utilizadas no Brasil, podem ser também utilizadas na Etiópia. Estamos dialogando com empresas agrícolas brasileiras para que elas invistam na Etiópia, pois nós estamos no centro do globo terrestre, ocupando uma posição estratégica na Costa Oriental da África. Nossos produtos estão livres de impostos e chegam facilmente nos mercados do Oriente Médio, China e Índia. Foram designados 3 milhões de hectares para investimento estrangeiro para cultura de café, algodão, cana de açúcar. É possível que um projeto tenha 30% dos recursos do investidor brasileiro que pode ser financiado pelo BNDES e 70% do Banco de Investimento Etíope. O governo etíope oferece a infra-estrutura com estradas, sistema de eletricidade e de comunicações. Atualmente temos a VALE, mas a Petrobras tem demonstrado interesse e a Andrade Gutierrez que está com um projeto de construção de uma ferrovia de 800 quilômetros ao sul da capital, Adis Adeba, em direção ao Sudão. No caso das estradas e ferrovias, 50% é financiado pelo governo etíope.

 

CN – Por que é necessária a presença de empresas estrangeiras na Etiópia, falta especialização das empresas nacionais?

WS – O crescimento foi muito rápido e as demandas são muito grandes para estradas, ferrovias. As empresas nacionais não conseguem atender o volume de projetos que estão sendo desenvolvidos. A empresa brasileira mais recente que passou a atuar na Etiópia foi uma companhia agrícola do Mato Grosso.

 

CN – Durante muito tempo a Etiópia teve sua imagem mundial associada à fome. Como lidar com essa questão nesse momento de expansão econômica do país?

WS – A Etiópia é um país que tem tudo. Somos o berço da humanidade e nunca fomos colonizados. Num momento da história em que países grandes caem. Na nossa história fomos testemunhas de momentos de ouro e momentos de crise. Fomos atingidos por uma seca, fome e a mídia ocidental mostrou essas dificuldades de modo muito amplo, mas hoje essa imagem está mudando e por isso também precisamos da mídia brasileira para mostrar as mudanças. As empresas européias e norte-americanas estão investindo na Etiópia, mas a mídia ocidental continua divulgando a imagem antiga relacionada à fome e à seca. Hoje, temos cerca de 56 empresas turcas da área têxtil instaladas no país e várias empresas chinesas também estão investindo, temos parques industriais sendo instalados com subsídio do governo.

CN – Que conversa o senhor teve com o governador Jaques Wagner?

WS – Discutimos questões gerais sobre a possibilidade de investimentos na transferência de tecnologia, Turismo, Agricultura e Mineração. A Etiópia está de portas abertas para as empresas baianas e o governo baiano acenou com o envio de delegações de negócios ao nosso país. Esperamos que a imprensa também faça parte também da delegação.

Embaixador Wuletaw Nigussie. Da esq: Secretário Elias Sampaio, Governado Jaques Wagner, Presidente da Ethiopian Airlines Sr. Alemu e Sr. Siraj Abdella, diplomata da Etiópia

 

CN – Recentemente foi inaugurada uma linha comercial da Ethiopian Airlines entre São Paulo e Adis Adeba. O que os brasileiros podem esperar do potencial turístico etíope?

WS – Temos uma infinidade de atrações. Desde os recursos naturais como montanhas, cavernas, lagos e vida selvagem, além da parte cultural e histórica. As pessoas são muito simpáticas e o custo de vida não é alto, os turistas podem visitar diversos locais nas zonas rurais. Temos 75 grupos étnicos dentro de um país de 90 milhões de habitantes, segundo mais populoso da África (Nigéria é o primeiro) e temos uma riqueza cultural muito grande. Somos um dos principais destinos turísticos da África, especialmente entre os japoneses e os europeus, mas com o Brasil ainda não temos uma aproximação, que deve ser acentuada agora com o vôo da Ethiopian Airlines. No primeiro vôo da companhia, cerca de 45 turistas etíopes vieram visitar o Rio e São Paulo. Temos certeza de que os brasileiros quando começarem a conhecer nosso país, a Etiópia vai se tornar um dos destinos mais procurados.

Por Maíra Azevedo e Paulo Rogério

Edição: Tom Correia

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