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Fotógrafo e músico, Tacun Lecy invade a cena baiana

Foto I Tacun Lecy

Foto I Tacun Lecy

Redação Correio Nagô*

Articulado a várias linguagens, Tacun Lecy, 37 anos, conheceu a musicalidade desde pequeno. Segundo o artista, o seu contato com a música veio através do bisavô, que ouvia muito Luiz Gonzaga e tinha um sonho de formar uma banda com os parentes. “Aos 12 anos, eu comecei a tocar violão e depois guitarra. Fiz parte de grupos, como a Banda Essência, que fazia muito sucesso no bairro do Barbalho”, lembra. Ele comenta que o seu trabalho musical sofre muita influência de cantores como Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro, Bob Marley, Led Zeppelin e Cartola.

Nascido no bairro do Barbalho, o nome de batismo de Tacun Lecy é Daniel Santiago da Silva Oliveira. Ele resolveu adotar este nome porque foi “dado pelo orixá” dele, Erinlé. “Se o meu orixá me deu este nome, eu resolvi adotar para a minha carreira, pois tenho muita ligação com a minha religião e me renovei a partir dela. Quando a gente nasce para o Axé, renasce para o mundo. Meu nome, Tacun Lecy, significa o caçador da terra de elefantes”, diz. Ele conta que sempre teve contato com a religião de matriz africana, apesar da família dele ser católica, mas, somente, depois de adulto, resolveu entrar no candomblé. “Eu frequentava [o terreiro], mas não tinha ingressado de fato. Mas, de repente, quando eu vi, eu já estava conectado”, afirma. O músico foi confirmado em 2009, no Terreiro Raiz de Ayrá, em São Félix, Recôncavo Baiano.

Registrando povos quilombolas e comunidades tradicionais de matriz africana, o trabalho do artista, como fotógrafo, já passou pela Colômbia e está percorrendo países africanos, como Angola e Nigéria. Tacun Lecy foi premiado em concursos, como o Concurso Fotografe o Brasil, mas salienta que no estado baiano a situação para ele não é tão fácil. “Aqui na Bahia, as coisas são complicadas. Algumas pessoas não estão dispostas a colaborar para o desenvolvimento do meu trabalho. Por ser servidor público, eu também não posso concorrer a editais. Isso complica um pouco”, afirma.

Na fotografia, Tacun diz que Pierre Verger influencia o seu olhar, o recorte pelo que fotografar. “Eu uso a fotografia como um instrumento de reconhecimento, preservação, grito. Há muita conexão entre o terreiro e a África. A relação com a Mãe é muito grande nas casas de candomblé. Muitas comunidades quilombolas, por conta das lutas de terra, vão deixar de existir, mas a memória não pode ser apagada. A história tem que ficar documentada”, pontua.

De temperamento considerado muitas vezes como “quente”, como ele afirmou, Tacun diz que faz questão de defender a sua cultura, a sua religião. Ele revela que há fotógrafos que entram em um terreiro e a partir das suas fotos passam informações erradas para as pessoas. “Eu discuto com eles sobre este problema. Eu não tenho medo de me indispor para não sair da zona de conforto. Se eu não comentar sobre a questão, eu não estarei sendo justo com as pessoas que permitem que eu entre nos seus espaços”, fala.

O artista também está inserido na execução de projetos culturais. O Música na Comunidade, evento gratuito, que acontece uma vez por mês, em Salvador, leva muito som para o bairro da Cidade Nova. No último sábado (29/01), o local recebeu os Filhos de Gandhy e os cantores Carlos Barros, Jota Ribeiro, Vércia Gonçales e Multipétalo para animar a festa. O cortejo saiu do largo da Cidade Nova até a Rua 24 de junho. “O Música na Comunidade’ é um sonho materializado na Cidade Nova que já reverbera em outras comunidades. Recebemos um convite para levar edições do projeto para o Curuzu e essa comunhão dos moradores em prol dos movimentos artísticos dentro dos seus bairros nos motiva, cada vez mais, a expandir o projeto”, confidencia Tacun Lecy.

 

* Por Taciana Gacelin

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