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NEGRO OLHAR: Notas autobiográficas

Por Caetano Ignácio

Olá, como vai? Espero que bem. Vivenciamos, no entanto, uma verdadeira tragédia no Brasil. Com o país brutalmente atingido pelos efeitos da crise econômica mundial e pelo golpe parlamentar, jurídico e midiático que impôs Michel Temer à presidência, violentando nossa democracia, que ainda engatinhava, a qualidade de vida da população, sobretudo da maioria de mulheres e homens negros batalhadores, mas já também da classe média, se deteriora a cada dia numa velocidade absurda.

Se o projeto JK era fazer o país avançar 50 anos em 5, os golpistas nos fizeram regredir 100 anos em 1. Não espanta que Temer tenha se tornado o presidente mais impopular do planeta e o personagem mais odiado da história do Brasil.

Temos perdido muito: milhares de jovens vidas negras exterminadas (e encarceradas), emprego, moradia, segurança alimentar, empresa, nome limpo, dignidade, pré-sal, soberania e relevância global. Precisamos entender como chegamos até aqui e o que devemos fazer pra superar o atraso acumulado e desenvolver o Brasil. Daí que um de nossos propósitos com esta modesta coluna seja facilitar o entendimento da realidade brasileira e de como nela estamos inseridos na condição de povo negro.

É uma alegria, contudo, estrear no Correio Nagô! Acompanho e me identifico com o site há bom tempo pelo engajamento e qualidade das publicações. Agradeço à querida Donminique Azevedo e ao meu amigo Paulo Rogério o convite pra participar desse timaço de colunistas.

Me sinto orgulhoso por atuar num cyberquilombo com referências não apenas minhas, como o professor Samuel Vida e a socióloga e ouvidora-geral da Defensoria Pública do Estado da Bahia, Vilma Reis, que recentemente liderou com bravura e sucesso os protestos do movimento negro para que as cotas raciais não fossem fraudadas no concurso ao cargo de procurador do Município de Salvador.   

Pretendo utilizar este espaço para conversarmos sobre a relação entre racismo e desenvolvimento no Brasil. Abordo o conceito de desenvolvimento em pelo menos 5 aspectos: econômico, político, social, cultural e ambiental. Penso que nossa tarefa enquanto povo seja formular e realizar um Projeto Nacional de Desenvolvimento adequado para o Brasil do século XXI. Daqui, vamos enfatizar a necessidade da inclusão da diversidade para que tal projeto se realize, com foco no enfrentamento do racismo (estrutural, institucional e cotidiano) em busca da igualdade racial.

Nasci em Santo Amaro, terra dos grandes brasileiros Teodoro Sampaio e Alberto Guerreiro Ramos. Escrevo de Itapuã, Salvador, Bahia. Cresci numa família de classe média, como um negro no Brasil dos brancos. Minha infância e adolescência transcorreram em playgrounds, shopping centers e numa escola particular racista, como o Colégio Anchieta, que há pouco acolheu alegremente alunos fantasiados de Ku Klux Klan – aliás, o incidente foi denunciado ao MP pelo valoroso vereador Sílvio Humberto e aguardamos resposta.         

Com essa nota autobiográfica, apresento à querida leitora e leitor um pouco do lugar de onde falo. Espero que nossa conversa seja civilizada e enriquecedora. Vamos tratar de fatos sociais, mídia, livros, filmes, clipes, cidade, conjuntura, economia política, feminismo, “guerra às drogas”, afetividade, cotas, boicote, voto étnico, enfim, falar da vida da gente. Sempre da nossa perspectiva. Sempre com um negro olhar. Sejam bem-vindos!

Sociólogo e Ogan de Adaen do Terreiro Hunkpame Savalu Vodun Zo Kwe

Sociólogo e Ogan de Adaen do Terreiro Hunkpame Savalu Vodun Zo Kwe

 

O conteúdo desta coluna é de responsabilidade do autor.

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