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Negros em marcha pelo direito do cabelo encrespar e contra o racismo religioso

19/11/19 I às 13h54

A terceira edição da Marcha do Empoderamento Crespo traz como tema o racismo religioso

Depois do sucesso das edições anteriores, a Marcha do Empoderamento Crespo chega à sua terceira edição em 2017, trazendo como tema o racismo religioso. O evento levou às ruas do centro de Salvador, diversos homens e mulheres negras esbanjando seus cabelos crespos, cacheados, com muitas cores e texturas.

Foto: Catarina Santos

A Marcha teve concentração a partir de 13h do sábado (18) e passou a tarde em um momento de discursos e intervenções artísticas, com um sarau, até se dirigir com o público rumo à Praça Castro Alves.

Durante a passeata, os participantes relembraram heroínas e heróis negros, além de dar voz a diversos ativistas que estão presentes no cenário do movimento negro soteropolitano.

O incentivo dos mais novos

Foto: Catarina Santos

Apesar de o principal público da Marcha ser formado por jovens, chamados de Geração Tombamento, foi possível ver também crianças com seus cabelos encrespados e até mesmo pessoas idosas, que marcaram presença com o incentivo de seus filhos mais novos. É o que diz a artesã Selma Beatriz, que já participou das outras edições da Marcha. “Fui incentivada a encrespar não só pela Marcha, mas também quando minha filha resolveu cortar o cabelo dela todo. Eu achei a coragem dela tão esplêndida, que quando resolvi cortar, eu cortei todo. Se ela teve coragem, por quê não eu?”, conta.

Para além da estética

E para lembrar que a luta da Marcha não é somente estética, o tema deste ano trouxe o racismo religioso como pauta. Devido aos ataques contra religiões de matriz africana, queima de terreiros e diversos outros acontecimentos de intolerância, a Marcha discute a luta estética alinhada às outras pautas do movimento negro. Lembrando que a estética é política e também faz parte da afirmação do corpo negro.

Foto: Catarina Santos

“A gente vem trazendo o racismo religioso como tema, pois a gente entende que a luta estética pode abrir para diversas bandeiras em relação ao racismo”, diz a museóloga Lorena Lacerda, uma das organizadoras da Marcha. Ela ainda comenta a importância da Marcha ter uma comissão toda formada por mulheres negras. “A gente entende que a mulher negra precisa estar no fronte da luta racial, porque nós somos subalternizadas socialmente, por isso também precisamos lutar contra o machismo e o racismo”.

A Marcha do Empoderamento Crespo que discutiu além da estética, foi um espaço de luta e reafirmação que deu voz à artistas, intelectuais negros e outros ativistas. Foi possível ver uma juventude negra participando de forma ativa e protestando contra o racismo religioso, contra o machismo e lutando pelo direito do cabelo encrespar, cachear e colorir. “Consideramos até uma renovação do movimento negro, porque a gente traz o protagonismo da juventude, essa juventude tombamento, as diferentes formas de luta que se mostram através da estética, da dança, da música, da arte e da moda”, finaliza Lorena Lacerda.

 

Ashley Malia é repórter do Portal Correio Nagô.

Com a supervisão da jornalista Donminique Azevedo.

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