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O Orun recebe as águas de Mãe Beata de Yemanjá

Mãe Beata Rio + 20Faleceu nas primeiras horas deste dia 27 de maio de 2017 (sábado), a líder religiosa Mãe Beata de Iemonjá. Nascida em Cachoeira, no Recôncavo Baiano, em 20 de janeiro de 1931, Beatriz Moreira Costa tornou-se uma das principais vozes em defesa das religiões de matriz africana, e dos direitos da população negra, em especial, das mulheres negras. O sepultamento será às 16h45 deste sábado no Cemitério de Nova Iguaçu, Rio de Janeiro.

Mãe biológica de quatro filhos (e de centenas de filhos e filhas espirituais), Mãe Beata foi funcionária da Rede Globo de Televisão, onde ingressou como figurante (fruto da atuação no teatro amador, ainda em Salvador) e depois aposentou-se como costureira. Era Conselheira da Rede Nacional de Religiões Afro-brasileiras e Saúde.

Bisneta de nigerianos e iniciada para Iemanjá na religião dos Orixás pela saudosa Mãe Olga do Alaketu, no terreiro ilê Maroiá Lajié, Mãe Beata assumiu em 1985, como yalorixá da comunidade religiosa do Ilê Omi Ojuarô (Casa das Águas dos Olhos de Oxóssi), em Miguel Couto, em Nova Iguaçu, Baixada Fluminense.  Em 2015, o terreiro recebeu o prêmio de Patrimônio Cultural, promovido pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).

Entre as dezenas de títulos recebidos por Mãe Beata recebeu a Medalha de Mérito Cívico Afro-Brasileiro, conferida pela Universidade da Cidadania Zumbi dos Palmares  de São Paulo; o Prêmio Mulher Cidadã Bertha Lutz do Senado Federal; e o Prêmio de Direitos Humanos conferido pelo Programa Nacional de Direitos Humanos da Presidência da República. Em junho de 2017, Mãe Beata receberia a Medalha Tiradentes da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro.

“Existem coisas de que tenho muito orgulho: de ser negra, ser mãe de quatro filhos e ter milhões de filhos pelos quais eu sinto a mesma dor, sinto o meu peito aleitar para amamentá-los. Sou amante, sou mãe, sou advogada, sou médica, sou conselheira, sou psicóloga. Eu sou tudo na vida. Outros orgulhos especiais que me dão muita garra: de ser nordestina, de não ter sucumbido, de a vaidade não ter corroído a minha identidade (…)”. Depoimento de Mãe Beata ao livro Mulheres Incríveis 3ª ed. – Editora Nandyala, de autoria de Elaine Marcelina.

Outro trecho do livro “Cada palavra que dou, com minha porta aberta, sei que me fortaleço. Eu sou semianalfabeta. Eu mesma me alfabetizei, eu mesma fiz todas as universidades do mundo, de todas as ONGs, eu mesma fiz com o meu caminho. Então, eu não posso ter medo e digo: se eu morrer por ser intrépida, por ser ousada, eu só quero que digam assim…a última coisa, quando botarem o último torrão de terra, digam: “Estamos botando o último torrão de terra na Luther King Mulher”.

1Em 2014, Mãe Beata foi homenageada pela Escola de Samba Garras do Tigre, no Carnaval da Baixada Fluminense.

O sociólogo Ailton Ferreira, da Secretaria de Promoção da Igualdade Racial da Bahia (Sepromi), lamentou a perda da yalorixá: “O Brasil perdeu nessa madrugada a Mãe Beata de Iemanjá. Mulher de luta, companheira das marchas em defesa do nosso povo, uma voz pela dignidade humana. Uma liderança religiosa e política, uma referência na luta contra o racismo e a discriminação. Com certeza, amanhecemos fragilizados neste sábado. Que Olorun a receba e que possamos aqui continuar a sua luta! As suas lições e palavras ecoam neste momento. A benção Mãe Beata!”, Ogan Ailton Ferreira, da Casa de Oxumarê.

André Santana é coordenador do Portal Correio Nagô.

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