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Pantera Negra: um verdadeiro culto à nossa ancestralidade

16/02/2018 | às 16h40

Por Ashley Malia*

A realidade de nós, negros, é uma só: crescemos sem referências na infância, principalmente no universo dos heróis, das princesas e da fantasia. O único herói negro que lembro de ter conhecido na infância foi o Super Choque, então as expectativas para a estreia de Pantera Negra estavam nas alturas.

No dia da estreia do filme, militantes e não-militantes negros se organizaram para fechar salas de cinema em vários lugares da cidade, como o Glauber Rocha. Tudo isso por saberem que este seria um momento único e que ficaria guardado nas nossas memórias eternamente. Assisti uma sessão especial com várias personalidades negras e pessoas que admiro e tenho como referência na vida. Devo confessar que é totalmente diferente e beira ao surrealismo ter esta experiência. Não imagino como seria ver algumas piadas, alfinetadas e aquele toque de sarcasmo em uma sessão cheia de pessoas brancas.

Com um elenco majoritariamente negro, Pantera Negra parece uma surra de satisfação para todos os negros que cresceram rodeados de referências colonizadoras. E o melhor de tudo é um enredo que se conecta diretamente com a nossa ancestralidade. No país afrofuturístico de Wakanda, o respeito aos ancestrais é quase lei, toda a história e magia envolve o passado e a força dos elementos da natureza.

A obra nos dá uma pincelada de tudo o que sempre fomos carentes: uma boa história de ficção e o toque de politização que cerca a nossa trajetória. Ao mesmo tempo em que há o tom lúdico e místico essencial para a história de um super-herói como o Pantera Negra, nossas questões não foram esquecidas e nem ignoradas. Muito pelo contrário, o encarceramento e genocídio da população negra, por exemplo, são temas que motivam muitos dos acontecimentos do filme.

Pantera Negra é um filme que toda criança negra deve assistir no cinema, é uma oportunidade que não se joga fora. Talvez isso seja um sinal de que os tempos estão mudando e apareçam mais heróis, protagonistas e até mesmo mais filmes com o elenco predominantemente negro. Não é questão – somente – de dívida histórica e sim de representatividade. Eu me vi em todos os grandes personagens do filme, me vi como a irmã, como a mocinha, como a rainha e como a heroína. É de mais representatividade como essa que precisamos!

*Ashley Malia é blogueira do Ashismos e repórter do Portal Correio Nagô.

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