30/01/2018 | às 17h00
O Terreiro Ilê Axé Torrun Gunan divulgou nota de repúdio nesta terça-feira (30), denunciando desrespeito em incursão policial, no último sábado, 27, praticados por policiais militares da RONDESP e PETO. De acordo com a nota, policiais militares invadiram templo religioso que fica em em Fazenda Coutos, atiraram, agrediram e apontaram armas na cabeça dos filhos de santo.
“Estamos cientes que tais ações estão inseridas em um contexto amplo de violência, desigualdade, racismo e desrespeito religioso contra a população Negra e, em particular ao Povo de Axé. Apesar das garantias constitucionais, os templos de Matriz Africana estão desprotegidos e os adeptos vulneráveis as ações truculentas, seja pelo poder paramilitar ou pelo aparato de segurança pública do estado da Bahia que não se posiciona diante as arbitrariedades, pelo contrário, fomenta mecanismo de justificativa para tais ações, tendo em vista que não há justificativa a não ser o racismo institucional engendrado nas Instituições públicas, principalmente na Segurança Pública”, diz nota do Terreiro.
O Portal Correio Nagô entrou em contato com a Polícia Militar do Estado da Bahia. Por nota, a PM informou que instaurou uma sindicância para apurar o ocorrido. “As guarnições informaram que, ao atenderam a ocorrência na qual um morador da região havia sido expulso de sua residência por traficantes locais, se depararam com indivíduos armados e houve troca de tiros. Os criminosos fugiram e pessoas foram abordadas nas proximidades. Uma delas desobedeceu à ordem legal para abordagem, apresentou resistência ao negar-se a colocar as mãos na cabeça durante a busca pessoal e desacatou os policiais. O homem conduzido já havia sido preso por desacato nos anos de 2004 e 2016”, diz nota da PM.
O Terreiro discorda da versão da PM e afirma que o Ogã Eduardo Machado, 34 anos, foi preso por exigir respeito ao templo sagrado e pedir a retirada dos policiais.
Em agosto de 2017, o terreiro Hunkpame Savalu Vodun Zo Kwe, no bairro da Liberdade, passou por situação semelhante. Em 127 anos de história, pela primeira vez a casa foi invadida. Policiais militares acessaram inclusive a parte sagrada do templo, onde ficam recolhidos os filhos de santo que estão em obrigação religiosa.
Segundo a PM, as ocorrências no Curuzu e na Lagoa da Paixão motivaram o Núcleo de Religião de Matriz Africana a “criar um projeto de conscientização junto às unidades operacionais da PMBA para orientar os policiais militares não praticantes das religiões de matriz africana sobre como atuar em ocorrências que envolvam a religião”.
Também por nota, a Secretaria de Promoção da Igualdade Racial (Sepromi), informou que tem acompanhado, desde o primeiro momento, o caso envolvendo o Ilê Axé Torrun Gunan e policiais militares.
Donminique Azevedo é repórter do Portal Correio Nagô.