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Uma educadora à frente das políticas de promoção da igualdade racial

Foto de Júnior Panela/Unilab

Na série de entrevistas do Correio Nagô com gestoras públicas, nossa terceira entrevistada é a ministra da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir), Nilma Lino. Pedagoga e primeira mulher negra no Brasil a coordenar uma universidade federal (Unilab), a atual gestora diz que tem como objetivo conhecer as mídias negras e atrelar as ações desses veículos às propostas desenvolvidas pela Seppir.

Correio Nagô – O lema do segundo mandato da presidenta Dilma Rousseff é “Brasil, Pátria Educadora”. Como a Seppir, agora com uma ministra que possui uma trajetória acadêmica voltada à Educação, poderá contribuir à concretização deste lema de governo?

Nilma Lino- Como a própria presidenta Dilma disse, em seu discurso de posse, o novo lema indica que a educação será a grande prioridade deste governo nos próximos quatro anos. A educação em seu sentido mais amplo, buscando, nas ações de todos os ministérios, um sentido formador, de cidadania. Significa que, muito mais que o indispensável fortalecimento do sistema educacional, o Estado assume para si a função de educador, nas perspectivas da educação social e cidadã. Eu me sinto ainda mais responsável, como brasileira e como educadora, em participar desse momento, que amplia as perspectivas das políticas afirmativas, que têm o papel de corrigir desigualdades históricas, contribuindo para a construção da justiça social. Portanto, esse lema reforça ainda mais o diálogo que a Seppir mantém com as diversas áreas do governo, no sentido de combater o racismo e promover a igualdade racial, indispensáveis para que o Brasil seja efetivamente um país mais justo e mais solidário.

CN – O número de jovens negros que morrem violentamente ainda é muito elevado, sobretudo, em casos envolvendo as polícias. Há casos de repercussão internacional como Amarildo e Davi Fiúza que não foram solucionados, mesmo o governo lançando a iniciativa chamada Juventude Viva e dizendo ser uma prioridade enfrentar o genocídio da juventude negra. Quais estratégias a Seppir utilizará com o objetivo de reduzir as mortes de jovens negros?

NL – A questão do enfrentamento à violência contra a juventude negra é uma pauta histórica do movimento negro brasileiro que sempre foi trabalhada pela SEPPIR e que recentemente foi alçada à condição de tema prioritário na agenda presidencial.
Com o lançamento do Plano Juventude Viva, o Plano Nacional de Prevenção à Violência contra Juventude Negra, a SEPPIR, em parceria com a Secretaria-Geral da Presidência da República, articula a ação de outros nove ministério do governo federal com o objetivo de desenvolver políticas e programas voltados para criação de oportunidades de inclusão social e autonomia; oferta de equipamentos, serviços públicos e espaços de convivência nos territórios mais vulneráveis; e aprimoramento da atuação do Estado, por meio do enfrentamento ao racismo institucional e sensibilização de agentes públicos para o problema da violência contra jovens, especialmente jovens negros.
Desde 2012, o Juventude Viva foi lançado em oito estados (São Paulo, Bahia, Espírito Santo, Paraíba, Distrito Federal, Alagoas, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul) e nos próximos anos será expandido para todo o país. A orientação da presidenta Dilma para reduzir o número de mortes com juventude negra é seguir com medidas que dialoguem com o eixo central do governo no campo da educação, do enfrentamento a todas as formas de violência e discriminação e da garantia de direitos. É preciso orquestrar um grande pacto nacional em defesa da vida da juventude negra brasileira e o Juventude Viva é um importante passo neste sentido.

CN- Como a experiência à frente da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (UNILAB) contribuirá para que a Seppir fortaleça as relações com os países africanos e da diáspora?

NL – A experiência junto à Unilab, sem dúvida, facilita a relação com interlocutores com os quais já mantínhamos o diálogo. Esse é um dos meus objetivos frente à Seppir, fortalecer a relação, não apenas com os países africanos, mas com as nações que pertencem aos outros continentes, considerando que a luta pela superação do racismo tem uma dimensão globalizada. Portanto, os vínculos políticos e culturais, sobretudo, com o continente africano, América Latina e região, deverão fazer parte da agenda prioritária da Secretaria.

CN- De que forma a Seppir pretende estimular a diversidade na comunicação fortalecendo o cinema negro, a democratização das verbas publicitárias federais e o fomento das novas tecnologias nas comunidades?

NL – O que posso afirmar nesse momento é que Comunicação estará, sim, na pauta da Seppir e nos diálogos que a Secretaria mantém com outras áreas do governo. Sei que as mídias negras têm um papel importante no processo de comunicação e circulação de informação sobre a temática racial e reconheço o quanto é relevante fortalecer esses canais. Quero conhecer um pouco mais estes veículos, compreender seus objetivos, visão política e midiática e formas de abordagem para depois pensarmos juntos propostas de fortalecimento, dentro dos objetivos, da missão institucional e das condições da Seppir.

O Correio Nagô acompanhou a posse da ministra, no dia 02 de janeiro de 2015. Confira a matéria: http://correionago.com.br/portal/ministra-nilma-da-seppir-toma-posse-em-brasilia/

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