No dia da consciência negra várias fitas me vem à cabeça: acordei tomei meu banho, ajoelhei, acendi uma vela e pedi aos Orixás humildemente, dessa vez não por mim e somente pelos meus entes e amigos que amo, mas por todo meu povo. Percebi a importância de cobrarmos do poder público, mas pensei mais emotivamente que precisamos começar por nós mesmos em atitudes individualizadas, exercitando solidariedade e intervenção comunitária direta. Aí roguei a Olorum, implorando que: as organizações tais como: CONEN, MNU, UNEGRO, entre tantas outras respeitosas entidades, pensem um pouco mais de fato no povo negro e, se não aniquilarem, ao menos amenizem os aspectos das vaidades, pretensões de ostentativo poder e inflar de egos.
O povo negro está morrendo nas mãos da polícia, quando não entre nós mesmos, promovendo autofagia. Vi essa campanha de trocar a foto por líderes negros e de fato tenho ciência integral do quanto devemos a ícones como Nelson Mandela, Martin Luther King, Malcom X (de quem sou adepto da filosofia extrema para mudanças que já se alastram ao longo de séculos), mas optei por colocar a foto de meu pai, o ex entregador de jornal do A Tarde, o ex limpador de privada, o ex balconista de padaria e hoje vencedor; advogado e empresário. O superador de adversidades no nosso puteiro chamado Brasil. Sim, digo puteiro porque se essa porra fosse séria e existisse de fato democracia racial, nós não seriamos 83,6 % de uma população que não se vê representada na Câmara, não se vê representada na Assembléia e se quer consegue fazer um prefeito que tenha na presença da melanina a sensibilidade de tudo aquilo que nos agoniza.
Reflexões? Ah, estas foram várias e tenho sempre carregado no meu íntimo a expressão indagadora do: até quando? E são vários os questionamentos
Até quando UFBA para filhinhos de papai oriundos da rede privada de ensino de colégios extremamente capazes de formá-los e nós negros cotistas e discriminados até pela forma de inserção que nada mais é que a forma minimamente mais justa de reparação racial. Afinal de contas, nós não pedimos pra vim pra esse puteiro em meio os delinqüentes, os incapazes de êxito comercial os infratores de normas europeias que aqui desembarcaram e começaram toda essa sacanagem.
Hoje vejo amigos meus dizendo que tudo isso é bobagem que sou noiado demais com essas questões raciais. A melhor resposta é o meu silêncio e abdicação de determinados laços porque aquele que a mim não compreendo e respeita não é digno de fazer parte da minha jornada.
Vejo todos os dias alguma atitude racista, mas hoje parei pra pensar acerca de todas elas e aí foi foda o peso das reflexivas linhas de raciocínio onde eu questionei: avanços, retrocessos ou estagnação racial no Brasil ?Até quando comemoraremos atrás dos trios elétricos a consciência negra e ao término dos mesmos regressaremos para palafitas e veremos nossos filhos privados das sua garantias fundamentais? Até quando estaremos ao som dos tambores que legitimamente são feitos por nós e no final do nosso sagrado Olodum seremos tangidos como gado pela polícia militar nos devolvendo a periferia?
Até quando?
Até que dia?
Fala-se de consciência, então comecemos a exercê-la de fato nos tornando agentes multiplicadores, fomentadores de horizontes aos nossos jovens ao invés de nos digladiarmos entre nossos egos em quem tem melhor história política, quem escreve mais ou menos, quem pinta mais ou menos, quem compõe mais ou menos, quem luta mais ou menos.
Lutemos juntos!
Busquemos a unicidade da raça, pois já dizia o nosso velho Ilê na inesquecível voz do meu ídolo Guiguio:
“A evolução da raça pode abalar o mundo…População magoada a nossa honra tem que ser lavada…”
Então ao término da minha prece desejo de joelhos diante da imagem de meu pai Xangô: Que sejamos soldados de um exército que precisa ter consciência do nosso potencial, que nosso general apareça e que a revolução venha pelos meios necessários mas que as mudanças sejam latentes para isso.
O primeiro passo é nós deixarmos de sermos algozes de nós mesmos, quebrarmos de fato os grilhões, rompermos os bloqueios da auto estima que eles impetraram sobre nossas almas e seguirmos rumo a um horizonte negro onde ocupemos de fato as esferas de poder.
Empoderamento econômico é frase de ordem porque se esse putos não melhorarem a educação pública que nós tenhamos a condição de ocupar as cadeiras do ensino privado para os nossos rebentos, capacitando os de igual pra igual;
Se eles não tornarem um SUS digno de nos sentirmos cidadãos, então que cada pai de família negro possa ter entre seus pertences uma carteira de plano de saúde e que sua senhora e seus filhos possam, sim, terem a dignidade de saúde contida nos princípios constitucionais;
Que o direito de ir vir deixe de ser cerceado por nós negros termos a porra do perfil de suspeito por eles estereotipados;
Que essa mídia robótica deixe de impetrar sob os ombros de nossos jovens os desejos que os levam a caminhos diversos e nem sempre corretos para obterem a Cyclone e o Nike, mas que eles tenham, sim, programas eficazes no sentido de capacitação e portas de fato abertas para ingressar nas universidades com dignidade equiparação de fato igualitária nessa porra.
Enfim, esse caralho todo aí foi só um desabafo porque como muito negrões e negronas de guerra eu também daqui a pouquinho tô na rua entre uma latinha e outra, celebrando para com os meus.
Axé meu povo e reflexões sempre porque de fato cerca de muito do que acompanhamos já chega!
MotumbÁ adupé Olorum
Sergio Carvalho
Sócio CEO
Afroparceiros produções culturais
Um novo lema em cultura negra