Redação Correio Nagô* – Há cinco anos o ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva sancionava a Lei nº 11.635 que transformou o 21 de janeiro o Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa.
A data presta uma homenagem à Ialorixá baiana (mãe de Santo) Gildásia dos Santos e Santos, que faleceu na mesma data, em 2000, vítima de enfarto. Hipertensa, a Ialorixá teve um ataque cardíaco depois de ver sua imagem utilizada sem autorização em uma matéria do jornal evangélico Folha Universal, edição 39, com o título “Macumbeiros Charlatães lesam o bolso e a vida dos clientes”.
O texto ainda era ofensivo, contendo agressões às tradições de matriz africana. Para Silvany Euclênio, secretária de Políticas para as Comunidades Tradicionais, da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (SEPPIR), falar em tolerância não vai resolver a negação e a coisificação que recai sobre a população negra brasileira.
Silvany defende que já está na hora de se garantir o direito constitucional das pessoas vivenciarem livremente a sua cultura. “Por isso, proponho que no dia 21 de janeiro, se pense contra o racismo e em defesa da ancestralidade africana no Brasil, já que o enfrentamento ao racismo passa necessariamente pelo combate à violência contra a ancestralidade africana e vice-versa”, afirma.
Tradições e culturas
De acordo com gestora da SEPPIR, uma das facetas mais contundentes do racismo no país foi ter tolhido dos negros a possibilidade de viverem suas tradições e culturas, desde que aportaram no país para servir como mão de obra escrava.
A resistência registrada desde então, afirma Silvany, possibilitou a criação dos territórios tradicionais de matriz africana, locais de afirmação da identidade e subjetividade histórica e cultural dos negros.
Nesses espaços foram preservados valores civilizatórios, idiomas, indumentárias, práticas alimentares e de relação com o sagrado, com o meio ambiente e com a sociedade do entorno, garantindo a preservação de um modo de viver marcado pelo acolhimento e pela solidariedade.
“O que aconteceu com Gildásia mostra o desrespeito com que essas tradições são vistas ou recebidas. Ataques de violência – incêndios, depredações, assassinatos, calúnias – contra seus espaços, símbolos, casas, pessoas, são vividos cotidianamente pela população negra”, destacou a Seppir.
“Mesmo aqueles que não seguem suas tradições ancestrais ou não exprimem isso em seu modo de vida, não são poupados do racismo”, diz a secretária. “Basta apresentar características fenotípicas da população africana para se cair nas garras do racismo”, afirma.
Celebração – No dia em que se comemora a luta contra o racismo, a ministra da Igualdade Racial, Luiza Bairros, participará de celebração ao Dia de Combate à Intolerância Religiosa em São Paulo.
A titular da SEPPIR é convidada do prefeito da capital paulista, Fernando Haddad, na atividade que acontece no Vale do Anhangabaú, às 18h. A ação marcará também a criação da Secretaria Especial de Promoção da Igualdade Racial (Sepir-SP), cujo titular é o senhor José de Paula Neto, Netinho de Paula.
A Sepir-SP constitui-se, de acordo com o seu gestor, em um grande marco na história do município no combate à discriminação e no enfrentamento às desigualdades raciais. A partir da instalação do órgão, a atual gestão da maior capital do país assume o compromisso de promover os direitos humanos na cidade de São Paulo.
*Com informações da assessoria da Seppir