Ele se aperfeiçoou e tomou de assalto partidos políticos
Nunca mais li nem ouvi na imprensa a menção sobre o “crime organizado”. A expressão era empregada para designar um grupo criminoso que agia com inteligência, hierarquia, ousadia e possuía ampla ramificação social. Geralmente estava associado a grandes ações de tráfico de drogas, roubo de banco, sequestros, jogos e assassinatos. Mexia-se com muito dinheiro, mas a imprensa só noticiava prisão de pé-rapado. As grandes cabeças sempre intocadas. Bom, mas aonde foi parar o crime organizado
Claro que ele não acabou, muito pelo contrário. De fato, alguns aparatos policiais e os órgãos de controle sofisticaram suas atividades e poucos membros do crime mais ou menos organizado andaram tombando aqui ou acolá. No entanto, isso não significa, em hipótese alguma, o recuo das organizações criminosas. Na verdade, o que parece ter ocorrido efetivamente foi uma mudança de estratégia, uma alteração de rota e a implantação de um novo e mais seguro modus operandi.
O crime organizado se aperfeiçoou e tomou de assalto alguns partidos políticos, como uma espécie de trampolim para o exercício das atividades criminosas, agora de forma legal e pública. Em outras palavras, ele continua exercendo influência na sociedade, mas com muito mais inteligência, mais hierarquia, mais ousadia e ampliou extraordinariamente sua ramificação social, tanto para reforçar a participação de figurões no esquema, quanto para sedimentar importantes apoios à sua sustentação.
Muito provavelmente os cabeças do crime organizado perceberam que na nossa frágil democracia há um momento – o período eleitoral – em que ele pode atuar legalmente sem ser incomodado e tirar enorme lucros por muitos anos. Uma das razões dessa migração é o atual modelo de financiamento das campanhas. A participação do crime organizado que era inicialmente no financiamento de candidaturas, agora assume partidos, tem política, tem candidatos e fatia o poder do Estado para atender seus interesses.
O que aconteceu com os escândalos do Mensalão do PT e do DEM de Brasília, com o do Cachoeira e suas ramificações, e com tantos outros que sequer vão ganhar destaque midiático são amostras do que pode estar acontecendo nesse momento