Em um exercício rápido de memória: já viu ou conheceu um argentino de pele negra? Na Argentina tem negros? Ou funciona como uma sucursal étnico-centrada da Europa na América Latina? Já ouviu falar em María Remedios del Valle?

Através dessa rememoração, e também em virtude do dia que se celebra a Mulher Negra Latino Americana e Caribenha, próximo sábado (25), a questão da invisibilização da população negra no país vizinho veio à tona. Invisibilização sim, porque a Argentina é um país miscigenado e com forte presença de entidades, movimentos e coletivos que combatem o racismo na educação, na literatura e nos meios de comunicação.

A omissão da existência dessa herança racial, mais conhecida como ‘desaparecimento artificial’ acontece lá [na Argentina] da mesma maneira que em outros países que passaram pelo processo da escravidão na sua história. Justificada pela manutenção da mentalidade racista, colonial, capitalista e patriarcal latente nesses locais até hoje. Em contrapartida a esta realidade, há uma militância latente na Argentina a favor de um pertencimento racial que promove o discurso, atos e debates acerca do resgate étnico. “É muito doloroso sentir-se um estrangeiro no seu próprio país”, frase cunhada por Carlos Álvarez, presidente do coletivo Agrupación Xangô, grupo ativista, situado em Buenos Aires, que combate o racismo, sexismo e a homofobia. É deles a ideia de ‘desaparecimento artificial’ para esse fenômeno.

A população afrodescendente passou e passa por um processo de ocultamento secular e cruel, onde poucos tiveram a oportunidade de conhecer a ignorada trajetória de seu povo. E além de problematizar esse quadro, é preciso evidenciar nomes e contribuições de afroargentinos que lutaram pelo país em nome da pátria e da promessa de liberdade. Personalidades como María Remedios del Valle, mulher que não poderia passar despercebida quando se fala em resistência e pertencimento. Figura de referência para a atual luta pelo resgate da participação e influência negra na construção da história do país. O movimento trava uma batalha para a produção da biografia da mulher negra que recebeu a alcunha de Sargenta Mayor María Remedios del Valle Rosas, “la negra Madre de la Patria” quando, à frente ao exército argentino do Norte, liderou as batalhas pela independência da coroa espanhola. E porém é conhecida na literatura como a “parda” María.

Mas é árduo o caminho para dar visibilidade e conhecimento a trajetórias como essa. Bens sabem os brasileiros, especialmente, baianos, que tentam incluir no panteão da história nacional, mulheres negras como Maria Felipa e Luiza Mahin.

Fabiana Guia, da Redação do Correio Nagô