O Sarau da Onça é uma das atividades culturais desenvolvidas no bairro de Sussuarana. O evento se iniciou com a proposta de desestigmatizar a Sussuarana, retirando das páginas policiais para ascender nas páginas culturais.
Entre os produtores do Sarau da Onça a mensagem que prevalece é a ressignificação da periferia, em especial, nas mídias. Passando de um suposto palco de horrores para palco das artes.
O bairro, como outros periféricos, ainda é um local marginalizado, mas tem se transformado em espaço aberto para todas as expressões de arte. O Sarau da Onça é uma das muitas iniciativas que buscam lançar novos olhares sobre a localidade.
“Nossa missão sempre foi ressignificar e rebater a ideia que a mídia sensacionalista insistia em mostrar, que na Sussuarana só havia criminalidade, assassinatos e tráfico de drogas. Através dessas ações, mostramos que a periferia é repleta de artistas e amantes da arte, que na periferia se produz muito e com bastante qualidade”, diz produtor do Sarau da Onça Evanilson Alves.
Com quase seis anos de história, o Sarau da Onça já estampou revistas, jornais impressos e televisivos, com o lançamento da primeira antologia “Poesias Quebradas de Quebrada”, em maio de 2014. O Sarau viajou o Brasil. Subiu nas asas da poesia e voou para o mundo.
“Os exemplares da primeira antologia se esgotaram em poucos mais de 3 meses de lançado, passando por locais como 23ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo, I FLICH (Festa Literária da Chapada Diamantina – Lençois-Ba), Centro Cultural da Penha (SP), Sarau da Cooperifa (SP), Encontro Nacional dos APN’s (MG), entre outros locais, além de ser exportado para países como Gana, Luanda, Moçambique, Espanha e Estados Unidos” conta o também produtor do Sarau Sandro Sussuarana.
SUSTENTABILIDADE
Nos últimos anos, os produtores culturais do Sarau têm se dedicado também a buscar formas de sustentabilidade.
“Com o edital a gente está mais uma vez dando um grande passo, não só o coletivo do Sarau da Onça, mas toda a periferia, as pessoas que não tiveram oportunidades, jovens que tiveram seus direitos negados.” diz Brenda Gomes, produtora do Sarau da Onça.
Neste sentido, ocorrerá no mês de aniversário do Sarau (maio) o “II Festival de Arte, Cultura e Concurso Literário Sarau da Onça”. O edital selecionará poemas e contos de 50 autores. Além disso, realizará oficinas de teatro, dança, hip-hop e criação literária.
Evanilson Alves diz ainda que “O festival vem para fortalecer a Grande Sussuarana e mostrar que a periferia é sim um polo de formação e cultura em geral e que o tesouro cultural está nas periferias do Brasil”, revela.
Sandro Sussuarana complementa que “uma antologia poética, um festival de arte e cultura é só parte de tudo que movimentos como o Sarau da Onça podem/poderiam produzir se houvessem mais recursos e investimentos financeiros para estas ações”.
SLAM DA ONÇA
Para além dos Saraus, a produção do Sarau da Onça produz rodas de conversas com temáticas relevantes para as minorias, em especial, para a comunidade negra.
No entanto, o Slam da Onça ganha destaque dentre as produções. Trata-se de uma competição de poesias, na qual, cada poeta deve recitar poesias autorais em três fases da competição.
O vencedor leva para casa diversos prêmios que variam a cada Slam. No último, por exemplo, um dos prêmios foi um curso de francês na Aliança Francesa, totalmente gratuito.
“Entendemos que a escrita e a leitura potencializam o aprendizado, enxergamos nos Slam’s de Poesia mais uma ferramenta de mostrar o quanto que a escrita é importante em nossas vidas. Assim, o Slam tem essa característica pelo fato dos poetas e poetisas obterem uma “nota” para os poemas e performances. Fazendo com que eles leiam mais, escrevam mais e cada vez melhor”, explica Sandro Sussuarana.
A estudante de enfermagem e poetisa Fabiana Lima venceu o Slam da Onça e, neste ano, participou do Slam BR e ficou em 2° lugar, tendo empatado duas vezes com a poetisa Luz Ribeiro que ficou em primeiro lugar. Fabiana Lima, além de representar a si própria, representou o Sarau da Onça, as mulheres negras, a Bahia e o Nordeste.
“A importância do Sarau da Onça e dos outros que ocorrem na cidade é mostrar o talento que a periferia tem. O Slam da Onça é uma competição, mas, além disso, é a chance de ir participar do Slam BR e mostrar que o Nordeste tem seus talentos e que não existe só uma hegemonia Sulista. Que a gente também tem bons poetas e poetisas”, diz Fabiana Lima.
“O Slam e o Sarau são a mostra que a comunidade periférica tem. E é de grande importância porque a gente serve como espelho, serve como representatividade para outras pessoas, outras mulheres negras”, acrescenta Fabiana Lima.
O sarau da Onça como a maioria dos movimentos que acontecem dentro das periferias é uma ponte para que a gente também possa realizar os nossos sonhos – Brenda Gomes
Saiba mais sobre II Festival de Arte, Cultura e Concurso Literário
As inscrições para o Concurso Literário seguem até 20 de fevereiro.
É importante não deixar para a última hora, pois, como disse Evanilson Alves, produtor do Sarau da Onça “é preciso divulgar e espalhar cada vez mais essa literatura que encanta e transforma os seres humanos. A poesia é vida e salva. Uma das maiores ferramentas de transformação nas periferias do Brasil”.
É possível se inscrever em somente uma das categorias. Cada autor presente no lançamento receberá cinco exemplares da antologia.
Os inscritos na categoria “Poesia”, poderão enviar no mínimo 2 e no máximo 5 poesias com 25 linhas. Na categoria “Conto”, poderão enviar no mínimo 1 e no máximo 3 contos, com 25 linhas.
O festival é fruto do edital Setorial de Literatura da Fundação Cultural do Estado da Bahia (Funceb), patrocinado pelo Governo do Estado, através do Fundo de Cultura do Estado, Secretaria da Fazenda e Secretaria de Cultura do Estado da Bahia.
Fotos: Lis Pedreira
Joyce Melo é repórter do Correio Nagô