Por Thiago Ribeiro
Há algum tempo escrevo e atuo em questões políticas e relacionadas a direitos humanos. Vivemos em um país democrático e por isso, acredito que somente através da política conseguiremos alcançar de fato a tão sonhada liberdade. A sociedade brasileira permaneceu adormecida por muito tempo e isso abriu espaço para que pessoas assumissem e se mantivessem no poder com o único objetivo de manter projetos pessoais. Esquemas de corrupção, pagamento de propina em troca de aprovação de leis, acordos para beneficiar amigos ou parentes e muito mais. Uma parcela da população acordou, mas caminha ainda cambaleando, sem saber ao certo que rumo tomar, o que apoiar. Entre a Direita e a Esquerda é onde nos encontramos. Entre a Direita e a Esquerda, continuamos sem representantes e sem acesso a políticas públicas de inclusão e combate à desigualdade racial e social. Alguns preferem ignorar a política sob o argumento de que não nos representa. Outros decidem se engajar e filiam-se a partidos políticos, mas logo percebem que não são ouvidos. Enquanto isso apenas 4,3% do Congresso Nacional, eleito em 2014, é de negros e negras.
Ora, se as pessoas responsáveis pela elaboração das leis no país não representam de fato a sociedade em que vivem, não existe a menor possibilidade de que as leis contemplem, sequer em parte, as pessoas que não são representadas. Dentre as consequências disso temos a quantidade assustadora de homicídios no Brasil, sendo que a maioria é de jovens negros, Aumento da população carcerária, mais uma vez com destaque para a maioria negra, a qualidade do ensino base que deixa a desejar, aumento nos casos de intolerância religiosa, dificuldade para prestar queixa em casos de injúria racial e a violência policial contra pessoas em situação de vulnerabilidade social. Todos esses fatores deixam evidente que o Brasil é um país racista. Dito isto, precisamos entender como a política em nosso país funciona para que possamos desenvolver estratégias que permitam aos negros assumirem definitivamente o protagonismo de suas vidas e obterem acesso a direitos fundamentais, como o direito à vida, que nos é negado diariamente.
Recentemente pesquisadores do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento(PNUD), o Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada(Ipea) e a Fundação João Pinheiro(FJP), constataram que os negros atingiram em 2010, o mesmo Índice de Desenvolvimento Humano(IDH) que os brancos tinham no ano 2000. Isso significa que em 2010 os negros estavam 10 anos atrasados com relação aos brancos. Em Belo Horizonte, Minas Gerais, 82% da população de rua é composta por pretos e pardos, segundo informações da Secretaria Municipal de Políticas Sociais. Quer dizer que a cada 10 moradores de rua da capital mineira, 8 são negros.
Visto que política e melhoria de condições sociais são questões interligadas, a coluna “Observatório Negro” nasce com o objetivo de propor discussões sobre a necessidade do engajamento político dos negros e negras e de propor ações que ajudem no desenvolvimento social da população negra. Para mudarmos o cenário que nos é imposto atualmente, precisaremos de representantes nos ambientes de tomada de decisões.
A cada semana trarei novos temas políticos e relacionados com os direitos da pessoa humana, sempre com o recorte racial necessário. Conto com participação de todos quer comentando ou propondo novas pautas.
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