13/02/18 | às 12:25
A tradicional Marcha Mundial das Mulheres, que acontece 8 de março, saiu da Praça da Piedade em direção ao Fórum Ruy Barbosa. Levou às ruas o debate sobre o feminicídio e fez conexão com o Fórum Social Mundial com tema “Resistir e Transformar”, fazendo mulheres de várias organizações marcharam juntas em prol de uma só causa: suas vidas.
A organização
O grupo 8M surgiu dessa necessidade de unificar os movimentos para fortalecer a Marcha Mundial das Mulheres. É o segundo ano que o grupo articula a marcha em Salvador, trazendo a presença de vários coletivos feministas da Bahia para fazer força nesse dia tão importante para a história da luta das mulheres. “A articulação do grupo 8 de março nasceu da necessidade de nós trazermos a pluralidade das diversas mulheres de setores distintos. Nós criamos um campo de unidade e nesse campo, escolhemos cada ano um tema para vim para a rua, conta Lindinalva de Paula, integrante da Rede de Mulheres Negras da Bahia e do grupo 8M.
União de forças
Apesar das pautas de cada organização, com diferentes posicionamentos políticos, o foco foi a luta unificada pela vida. “Precisamos estar vivas para lutar”, essa fala de Lorena Cerqueira do grupo 8M, resume bem o que a manifestação significa todos os anos, antes das diversas questões, as mulheres lutam pela vida.
A pluralidade do encontro incluiu desde a troca entre gerações até a troca cultural de formas de vida. Na concentração, ao mesmo tempo que as mulheres da poesia recitavam, as mulheres da capoeira jogavam, cantavam e tocavam e as mulheres e as do hip hop dançavam, sem desrespeito.
Mestra Janja Araújo, angoleira e professora da UFBA, esteve na marcha e trouxe um panorama sobre o movimento que as mulheres da capoeira tem feito no interior dos feminismos, falando também sobre as pulsações que as comunidades tradicionais de matriz africana trazem para dentro dos movimentos sociais, uma união de ganho. “Existe uma pauta legitimada pelo enfrentamento que fazemos dentro de um espaço considerado historicamente masculino e heteronormativo. Não cabe a um espaço de luta contra o racismo, a manutenção de condutas que reforçam o machismo e o sexismo no interior da capoeira, então gingamos até que todas estejamos livres”, desabafa, esperançosa, a mestra de Capoeira Angola, Janja.
As mulheres do Quilombo Rio dos Macacos também se fizeram presentes na Marcha, unindo forças pela luta comum a todas as mulheres, apesar da complexa briga territorial que travam há anos. Dona Olinda, de 59 anos, trouxe sua perspectiva: “Sou quilombola, nascida e criada no quilombo e sei que a violência não é só na cidade. Essa marcha traz visibilidade para nossa luta que nunca termina, ser mulher negra, quilombola, pescadora é lutar pelo resto da vida.”
Feminicídio
A organização trouxe este ano o tema Resistir e Transformar, levando às ruas o debate sobre feminicídio. O Brasil é o 5º país com maior taxa de homicídio de mulheres, de acordo com o Mapa da Violência. Na Marcha, várias das presentes carregavam cartazes com frases contra o estupro e a morte silenciada de várias mulheres diariamente no Brasil, 12 por dia, em média, no Brasil.
“Essa Marcha é importante por que a gente tira o dia da mulher desse lugar romantizado de que está tudo bem e que temos que comemorar. Nós precisamos comemorar sim a nossa existência e nossa resistência, mas, também, precisamos fazer o País compreender que nós não estamos contentes com a situação das mulheres no Brasil”, comenta Ana Paula Rosário, integrante do Odara Instituto da Mulher Negra.
Ashley Malia e Beatriz Almeida são repórteres do Correio Nagô
Com a supervisão da jornalista Donminique Azevedo