20/03/2018 | às 00:23
Na última sexta-feira (16), em meio ao luto, mas em luta, militantes do Movimento Negro se reuniram em Salvador (BA), no Centro de Estudos Afro-Orientais (CEAO_UFBA) para discutir estratégias de segurança coletiva. Estiveram presentes representações de organizações de vários estados, entre elas o Projeto Redes de Desenvolvimento da Maré e o Observatório de Favelas.
A execução da vereadora do PSol, Marielle Franco, foi um susto para todos que pensaram que ao adentrar o patamar político Marielle sairia do campo de visão da estatística e estaria do lado de quem pode proteger.“A morte dela faz a gente perceber – e a forma como o partido dela não fez questão de protegê-la – o que é o racismo. Não foi uma perda da esquerda, quem perdeu foram as mulheres negras”, pontua Alane Reis do Instituto Odara.
Priscila Rodrigues, do Observatório de Favelas da Maré (RJ), era amiga de Marielle. Muito sensibilizada, contextualizou a morte da vereadora que reuniu 46 milhões de votos. “Em fevereiro, ela foi escolhida como relatora da comissão que apurar e acompanhar a intervenção militar do Rio de Janeiro. E semana passada ela fez uma denúncia muito grave que moradores de Acari tinham sido mortos e jogados na vala. Ela deu nome e batalhão, botou a cara como ela sempre fez”.
Os tiros que atingiram todas as mulheres negras
Mulheres negras de todas as capitais do Brasil se organizaram em protestos e vigílias na quinta feira (15), para se fortalecerem juntas diante da perda de uma representação tão potente para a luta contra o genocídio da população negra. Com a notícia da morte de Marielle, a programação do Fórum Permanente de Mulheres Negras se modificou, diferente da programação do Fórum Social Mundial, evento sediado na UFBA que abarca o fórum permanente.
Dados da perícia informam que a munição da pistola que disparou os nove tiros são parte de um lote vendido a Polícia Federal de Brasília em 2006. A mesma munição usada na guerra às drogas, matou uma importante articuladora parlamentar e dos direitos humanos. O advogado e diretor da CEERT São Paulo, Danilo Teixeira, elucidou: “A guerra às drogas é mais uma faceta da guerra declarada aos negros.O gatilho do genocídio é apertado muito antes da morte de uma pessoa negra. Vem de toda uma educação que apaga simbolicamente a contribuição negra no processo civilizatório”.
Estratégias de segurança coletiva
A intervenção militar no Rio de Janeiro reacende o debate acerca das estratégias de segurança coletiva nas comunidades periféricas.
O historiador e coordenador da Iniciativa Negra para uma Nova Política sobre Drogas, Dudu Ribeiro, destaca a proteção espiritual e comunitária. Outra estratégia possível citada na roda foi a articulação entre estados, no sentido de firmar uma rede nacional de apoio.
Redes sociais: potências e vulnerabilidades
Segundo os participantes, a tecnologia ajuda no contato entre as organizações, mas pode ser perigosa se usada de forma expositiva demais. A jornalista Alane Reis advertiu sobre precauções como não fazer check in ou postar fotos em protestos, como também avaliar sobre denúncias no perfil pessoal.
Confira dicas de sobrevivência:
Da Redação do Portal Correio Nagô.