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Subvertendo discriminação histórica, Antonio Olavo estreia, com duas sessões lotadas, filme sobre Revolta dos Búzios

14/08/2018 | às 17h40 | Atualizado em 15/08/2018 às 22h49

Noventa anos antes da assinatura da Lei Áurea, dezenas de homens negros planejaram, na Bahia, um Levante para derrubar o governo colonial, proclamar a independência e implantar uma República democrática, livre da escravidão. Isto em 1798, ou seja, 91 anos antes da Proclamação da República.

Mas, afinal, que história é essa que o livro didático não contempla proporcionalmente à relevância do ocorrido? Esta história, invisibilizada por longos anos, virou filme e estreou nesta segunda (13), na Sala Walter da Silveira, em Salvador, com duas sessões lotadas.

Este é quinto longa metragem do cineasta Antônio Olavo. “É fundamental o povo negro conhecer a sua história e a história do povo negro, principalmente, não é a história da escravidão, da humilhação ou de todos os dissabores que foram vividos…Isso existiu e é importante ser lembrado. Mas a história do povo negro no mundo, aqui no Brasil, na Bahia, é, principalmente, uma história de resistência, de afirmação de sua identidade. Um povo que foi escravizado durante quase 400 anos, mas que afirmou a sua identidade, criou esperança, luta, construiu alternativas, como foram os quilombos e os projetos de tomadas do poder. Esse filme é uma contribuição sobre esta resistência”, contou ao Portal Correio Nagô, Antonio Olavo, ainda emocionado.

Referências no Movimento Negro brasileiro, a professora Ana Célia da Silva lembra que conheceu a Revolta de Búzios por meio do bloco afro Ilê Aiyê. “Foi em 1974 que comecei a ver falar de Zumbi,  no quilombo de Palmares… O Ilê Ayiê cantou toda a história da revolta negra no Brasil e cantou os estados africanos. Para você ver o tipo de educação que temos no Brasil?”, declarou.

“Os blocos afro vem contando essa história através dos panos, de seus temas. Dessa forma, isso foi chegando nas escolas, nas pessoas e se tornando algo de interesse de fato. É uma revolução. É uma conjuração. São códigos, símbolos e signos baianos. É a estética também. Olavo levou 13 anos para que isso se realizasse. Deveria ter sido realizado antes, mas como tudo para nós é muito difícil, tudo para nós é muito caro, mas valeu a pena esperar”, complementou o presidente do Cortejo Afro Alberto Pitta.

Luciana Souza é uma das atrizes que participa do documentário. Para a artista, que também é educadora, a obra traz uma história que ainda precisa ganhar visibilidade. “O filme abre muitas portas e vem em um momento muito importante de outros movimentos sociais para que nossa educação possa ser transformada a partir desse conhecimento”, declarou.

“Mais uma vez, Antonio Olavo dá sua contribuição para a história de luta e de resistência do povo negro. É importante saber que chega no momento em que estamos nos apropriando das ferramentas da comunicação para contar as nossas histórias. Não tem como dizer mais que a  história não foi contada. Apesar de tanta dor e tanta luta, o filme representa fortalecimento para lutar contra o genocídio”, disse o jornalista André Santana que, em conversa com Luis Guilherme, filho de Luiz Henrique Dias Tavares (historiador que mais se dedicou a história da Revolta dos Búzios), foi informado que o pai dele gostaria muito do filme de Antônio Olavo. “Ele disse que o pai gostaria principalmente porque é um filme subversivo que conta a história a partir de um olhar de hoje e traz um debate atual sobre tema”, contou André Santana.

CIRCULAÇÃO

Antônio Olavo revelou que o filme vai circular muito ainda este ano. “O filme vai pertencer a quem quiser se apropriar dele. Quero passar no Festival Internacional do Alto do Cabrito, no Festival Nacional do Uruguai, quero passar nas escolas e estar presente nos debates”, finalizou.

Donminique Azevedo é repórter e editora-chefe do Portal Correio Nagô.

 

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