29/09/2018 | às 16h49
Preto, gay, rapper, interiorano e música da cabeça aos pés. Esse é Hiran Fernandes Santos, o Mc que saiu de Alagoinhas, interior da Bahia, para o Brasil fazendo rap de mensagem, reforçando que “Tem Mana no Rap”.
Ele sempre foi apaixonado por música, desde os 9 anos canta e encanta. Filho de Dona Delba e Seu José, Hiran veio de uma família humilde, cheia de amor e respeito. Precisou de uma longa trajetória para acreditar que era capaz de fazer rap sendo “diferente”, como ele mesmo diz. O primeiro álbum, “Tem Mana no Rap,” tem prosperado e ganhando o Brasil. Como Hiran, outros artistas gays vem visibilizando essa faceta do rap, a ‘Quebrada Queer’, uma tarefa nada fácil em meio à lgbtfobia enraizada no Brasil, inclusive dentro do movimento cultural oriundo das ruas.
“Com a ajuda do Russo PassaPusso e de uma galera que é muito mais da música popular brasileira do que do rap, de fato, eu terminei acessando um lugar na música que não é exatamente onde o público que consome rap está. Mas eu tenho certeza que o meu álbum chegou na galera que contrata, e eu posso dizer pra vocês que eu lancei o álbum em março e já fiz uns 30 shows, mas não toquei em nenhum evento de rap. E os que eu mandei proposta não recebi retorno”, relembrou o artista.
POR UM FREESTYLE MAIS CRIATIVO
Com muita sobriedade, Hiran falou sobre como se bloqueou em relação ao rap por muito tempo, achando que aquele espaço não era para ele, pois nunca seria compreendido.
“Eu falo de um ponto de vista ainda pouco visto no rap, eu sou gay e me assumi cedo,” o que foi difícil em relação ao rap, por ser um movimento majoritariamente tocado por homens que se apoiam no machismo e na homofobia para rimar.
Hiran contou sobre a traumática experiência da primeira e única Batalha de Rima que participou, onde o outro Mc usou a sexualidade como munição para todas as rimas que lançou. Depois disso, Hiran (e muitos outros garotos e garotas) desistiu de batalhar e exercitar o freestyle, por medo de ter suas subjetividades jogadas na roda em prol de uma rima que humilha e desloca o oponente, apesar de o Rap, em sua origem, está focado em mensagem de cunho social e transformador.
CHEGANDO NO FLOW
Perfeccionista, Hiran relatou muito firme sobre o processo de superar a autosabotagem e fazer sua música acontecer, hoje ele acredita e se orgulha do trabalho que desenvolve, além de inspirar e puxar outros. “O que diferencia a maior pessoa da gente que tá fazendo música aqui é oportunidade e O marketing” considera.
Foi a partir da referência de Rico Delasan e Carol Konká que o Mc percebeu ser possível cantar o que ele quisesse e que não era necessário ser igual ao padrão esperado de determinado estilo musical para fazer parte. O rapper contou que agora faz o possível para fortalecer e inspirar os jovens da sua cidade a acreditar no poder transformador do Hip Hop.
Assista ao clipe de Tem Mana no Rap
Beatriz Almeida é repórter-estagiária do Portal Correio Nagô
Com a supervisão da jornalista Donminique Azevedo