Por Anderson Shon para a Coluna “Black Nerd”
Provavelmente, você está sentado no sofá após ter se fartado de peixe (frito ou moqueca) ao som de histórias que já deve ter ouvido. Ao ligar a televisão, vê um comercial da Sessão da Tarde indicando que o filme que será transmitido homenageará o dia comemorativo em questão. Posso apostar que o título é Jesus ou algo do tipo.
Seria fantasticamente utópico pensar que algum programa de filmes vespertinos passaria algo como Exú, a origem; Avante, Orixás; Besouro, o filme, mas, infelizmente, estas obras ainda não invadiram o cinema como deveriam. No entanto, sabemos que um erro simples pode ser corrigido, só que Hollywood parece não ter peito o suficiente para isso.
Jesus com aparência eurocêntrica soa falso até para ficções. É mais fácil acreditar que Cabral descobriu o Brasil do que na possibilidade desse líder espiritual ter como biótipo cabelos longos e castanhos, pele branca e olhos claros.
Criar um longa-metragem em que Jesus tem a aparência mais próxima das pessoas que vivem na região onde ele nasceu não é um favor, é uma obrigação.
O cinema tem uma responsabilidade cultural enorme, desmascarar uma mentira contada há gerações seria um passo importante pra quem tem Jesus como grande líder sagrado ou somente para quem quer ver a história sendo bem contada para a sua geração.
O mais perto do que vimos disso é no filme Auto da Compadecida, de Guel Arraes, onde Jesus é interpretado por Maurício Gonçalves e tem o visual muito perto do que a ciência acredita ser a verdadeira aparência de Jesus. Pele queimada do sol, olhos escuros, cabelo crespo e barba densa.
Filmes de ninja, de pirata, autobiografias, todos eles tentam chegar o mais perto possível da aparência de pessoas reais através do estudo, da história e de pesquisas, por que tem que ser diferente com esses filmes bíblicos religiosos?
Eu tenho a resposta para essa pergunta, mas adoraria que ela sequer precisasse ser perguntada. A sétima arte tem o poder de começar uma revolução, exigindo que as “verdades” sejam questionadas, mas em meio há tanto fake será que ainda existe alguma verdade?
#WakandaForever
Apaixonado por poesia e pela cultura geek, Anderson Shon (Anderson Mariano de Santana Santos) é escritor, poeta e professor, com graduação em Comunicação Social. Autor do livro Um Poeta Crônico(2013), divulga seus escritos por meio de um blog, um canal no youtube e em seus perfis nas demais redes sociais digitais. A partir de abril de 2019, integra o grupo de colunistas do portal Correio Nagô, assinando textos para a coluna Black Nerd.
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