Watchmen, nova série da HBO, traz mulher negra como protagonista heroica e supremacistas brancos como antagonistas.
Por Anderson Shon para a Coluna “Black Nerd”
O título desse texto pode ser simplório, inocente e até um pouco vago, mas é a descrição necessária para entendermos Watchmen, nova série da HBO, e seu primeiro episódio.
Contextualizando os não tão fãs de quadrinho: Watchmen é uma HQ da década de 1980 que conta a história de pessoas mortais que resolvem combater o crime, colocando uma máscara a agindo como super-heróis e super-heroínas. A série da HBO se propõe a ser a continuação direta do quadrinho, mostrando que o comportamento desses heróis e heroínas gerou consequências sociais irreversíveis.
Supremacistas brancos estão para o século XXI como os nazistas estavam para o século XX. Uma infinidade de narrativas do século passado usou os soldados do reich como contraponto ao protagonista (Indiana Jones, Capitão América, Minas do Rei Salomãos, etc.). Tudo isso era a arte utilizando da sua visibilidade para mostrar ao mundo o mal que o pensamento nazista havia feito e como era necessário extinguir qualquer resquício que havia sobrado deste regime.
Nos quadrinhos originais de Watchmen, Allan Moroe escreve sobre uma sociedade completamente pessimista com o seu futuro e como a guerra fria criava um total clima de instabilidade social. A série traz um pouco desse pessimismo ambiente e, com louvor, apresenta vilões que, infelizmente, não podiam ser mais reais.
Sétima Kavalaria é o nome do grupo de racistas que querem devolver o mundo a “quem realmente merece”. Esses ideais são combatidos por policiais – que agora podem usar máscaras – e por super-heróis e super-heroínas legalizados dando apoio à polícia. Entre eles temos a protagonista Sister Night, mulher com habilidades marciais incríveis, espírito de liderança que a coloca como líder das operações policiais e com um visual que lembra ironicamente uma freira. Angela Abar, sua identidade civil, era policial, mas se aposentou após ter sua casa invadida e levar um tiro em um evento intitulado como A noite branca.
O visual da Sétima Kavalaria é uma máscara branca, somente com os olhos amostra. Este estilo tem referência direta a Rorschach, personagem dos quadrinhos que tinha uma noção de justiça totalmente deturpada e bem preconceituosa. Porém, a semelhança com a Ku Klux Klan também traz o aspecto de crítica social pretendida pela série.
Outro ponto interessante é o personagem Panda. Um homem negro que serve como equilíbrio, já que o mesmo decide quando os policiais podem ou não usar as armas e, mostrado no primeiro episódio, Panda é completamente contra o uso da força letal.
Watchmen não funciona só por ser essa grande reflexão racial – ainda poderíamos falar da cena inicial mostrando a revolução racial de Tulsa -, a série também é recheada de ótimas cenas de ação, um visual muito fiel à arte dos quadrinhos e diálogos que fazem com que questões simples sejam refletidas.
Ainda estamos no primeiro episódio e já há muitos fatores que causam inquietação. Por isso, fiquem de olhos atentos para Watchmen, afinal, a vida imita a arte, e, sendo cada vez mais comum, vice-versa.
#WakandaForever
Apaixonado por poesia e pela cultura geek, Anderson Shon (Anderson Mariano de Santana Santos) é escritor, poeta e professor, com graduação em Comunicação Social. Autor do livro Um Poeta Crônico(2013), divulga seus escritos por meio de um blog, um canal no youtube e em seus perfis nas demais redes sociais digitais. A partir de abril de 2019, integra o grupo de colunistas do portal Correio Nagô, assinando textos para a coluna Black Nerd.
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