Toda mulher negra deve e merece assistir “A Mulher Rei”! O filme resgata toda a ancestralidade feminina africana e nos presenteia com muita história e muitas verdades que nos foram negadas durante séculos. Inspirado em fatos reais, A Mulher Rei (The Woman King) conta a história das Agojie, elite de guerreiras, constituída exclusivamente por mulheres, que protegiam o Reino Africano do Daomé, entre os anos 1600 e 1800.
Sua principal líder é a general Nanisca (a vencedora do Oscar Viola Davis), que é também responsável por treinar a próxima geração de guerreiras, entre elas Nawi, interpretada pela atriz sul-africana Thuso Mbedu, que surpreende a todos pela sua interpretação. As guerreiras Agojie viveram para servir, defender e proteger o reino do Daomé e o seu rei. O reino era um dos mais ricos da época, e as Agojie eram as guerreiras mais temidas da África Ocidental, no território que hoje conhecemos como Benin.
“Há coisas pelas quais vale a pena lutar!” O filme retrata a história de luta e resistência de um povo, que durante séculos foi arrancado de seus lares e famílias, para atravessarem o oceano e serem escravizados nas Américas. A história sempre foi contada pela ótica do opressor, retratando até hoje pessoas pretas como subalternas. Mas o filme mostra o oposto disso, evidencia que foram muitas as lutas travadas no território africano contra o então crescente comércio de negros escravizados na África Ocidental. O filme reforça que todo sacrifício é válido para livrar seu povo da escravidão.
Lutar e resistir é tudo que uma mulher negra precisa saber para sobreviver nesse mundo cheio de preconceitos e desafios. Podemos dizer que “mulher negra” é um tema em alta neste momento. Como disse Angela Davis: “Quando uma mulher negra se movimenta, toda a estrutura da sociedade se movimenta com ela”. E é isso, Viola Davis não compartilha com o mundo apenas uma história de guerreiras africanas, ela cria um movimento no cinema mundial, que nesse momento volta seus olhos para o continente africano, e todos os profissionais envolvidos neste trabalho. Uma verdadeira onda, um efeito em cadeia, e neste sentido podemos mais uma vez falar de representatividade, ancestralidade e feminismo negro.
O que vemos é a cultura e a religiosidade do continente africano sendo retratadas de forma respeitosa, como nunca visto antes no cinema. Fortes cenas de luta, com mulheres fortes, lutando com homens negros e brancos, por seus ideais e para defender os seus. Uma inclusão não vista na cultura de outros países, que valorizava a importância das mulheres. Todos os cargos oficiais eram ocupados tanto por um homem quanto por uma mulher. O que incluía as posições mais importantes do reino, desde generais militares a conselheiros financeiros e líderes religiosos, e alcançava os mais altos escalões. E o título recebido por Nanisca foi Kpojito – ou mulher rei – a uma mulher que seria sua companheira de reinado.
Valéria Lima
Jornalista, Mestre em Estudos Étnicos e Africanos