A vida e a obra de Dolores Duran (1930-1959), uma das compositoras brasileiras mais gravadas de todos os tempos, conduzem Dolores – Minha Composição, espetáculo inédito que entra em temporada no Itaú Cultural de 23 de março a 16 de abril (de quinta-feira a domingo). Com direção geral de Luiz Fernando Marques (Lubi), a peça mescla ficção e realidade, passado e presente.
Acompanhada apenas pelos músicos Marcelo Farias, Pedro Macedo e Rodrigo Sanches, a atriz Rosana Maris vive o papel dessa mulher negra, artista e pobre, que alcançou o auge entre as décadas de 1940 e 1950 e virou um ícone da música popular brasileira, mesmo transitando em um universo masculino, preconceituoso e conservador.
Como toda programação do Itaú Cultural, a temporada é gratuita. Os ingressos devem ser reservados pela plataforma INTI (acesso pelo site www.itaucultural.org.br). Eles são disponibilizados semanalmente a partir da quarta-feira anterior à apresentação (seguem abaixo todas as datas de início das reservas).
O espetáculo revela a trajetória da artista como se fosse uma conversa entre Rosana e Dolores, na qual elas falam sobre solidão, amor, sonhos, opressão e construção de identidade racial. Ele é ambientado em três espaços diferentes – um bar, um show e a casa da artista –, levando ao palco histórias emblemáticas da cantora, suas composições e interpretações que ficaram marcadas na música brasileira.
Rosana canta clássicos como A Noite do Meu Bem e Fim de Caso, entre outros, acompanhada pela instrumentação de Farias, Macedo e Nunes, cuja música costura a história do espetáculo e a trajetória da cantora contada no palco.
Além das canções, a peça contempla momentos pessoais de Dolores Duran e o seu relacionamento com notáveis personalidades da música brasileira, como Maysa, Tom Jobim e Vinicius de Moraes. “Do ponto de vista da obra artística, é interessante porque, de uma maneira geral, é senso comum você colocar Dolores Duran naquele lugar do samba-canção, da fossa. Mas se hoje observarmos com esses olhos da solidão da mulher negra, do patriarcado, do machismo estrutural, começamos a enxergar essas letras também como um protesto, como um grito de socorro, ou de alerta, ou de denúncia”, conta Lubi. “É interessante pensar que ela é bossa nova, mas, antes da bossa ser nova ela já aponta na composição dela fundamentos e dinâmicas artísticas que depois foram se consolidar. Poucas vezes dão esse mérito para ela”, complementa.