Desfile do Afródromo, neste domingo, deixou uma pergunta: pra que novo circuito no comércio?
Ontem, 10/02, foi dado início a mais uma onda de africanização do Carnaval de Salvador (é, porque a resistência em aceitar as heranças africanas como as bases sólidas da nossa cultura são tantas que são necessárias várias ondas). O desfile do Afródromo trouxe para a passarela do Campo Grande (com justiça, nomeada Nelson Maleiro), os mantenedores das tradições, criadores dos ritmos, decoradores das nossas belezas, e alimentadores das nossas reais alegrias.
Brown comandou um belo desfile na manhã deste domingo, reunindo blocos afro e afoxés, desde os mais midiáticos como Ilê Aiyê e Filhos de Gandhy até os ainda não descobertos pelas oportunistas estrelas do axé music , como Arca do Axé, Bankoma e Mundo Negro. Todos lindos e completos em suas performances, em roupas, fantasias, danças, cantos e tambores. Muitos tambores, como ferramentas poderosas do nosso discurso de alegria como resistência à opressão, festa como sobrevivência frente ao extermínio. Apesar de tudo, “estamos vivos”, confirmam os tambores.
O desfile do Afródromo pelo Campo Grande, seguindo pela Avenida Sete em direção à Praça Castro Alves, provou que não precisamos de um novo circuito destinado à ‘guetificar’ ainda mais os blocos de matriz africana. Ainda bem que a proposta inicial, de realizar três dias de desfiles no Comércio, não foi possível para este ano, forçando a realização do espetáculo deste domingo.
Criar outro circuito é ir contra uma lógica que foi se engendrando na dinâmica do carnaval: o luxuoso circuito da Orla é dominado por artistas e foliões unidos economicamente e epidermicamente, que são os mesmos que ocupam aquela faixa próxima ao mar o ano inteiro, na baixa ou alta estação, para morar, trabalhar ou se divertir. São os que querem e podem ficar separados da gente do lugar, por cordas ou camarotes. Aquele “festival de verão a céu aberto” poderia ser em qualquer lugar do mundo. Bom que seja aqui, na nossa cidade. Já o Circuito do Centro reúne os que por aqui vivem, travam suas batalhas cotidianas e atraem todos aqueles que querem chegar perto