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A escritora mineira Conceição Evaristo toma posse como titular da Cátedra Olavo Setubal, que será conduzida por sua “escrevivência”

A proposta de Conceição Evaristo para o período da sua titularidade é “traduzir o saber acadêmico extramuro da Academia e promover uma investigação interdisciplinar”, entendo a necessidade de incorporar “novos modos e lugares de produção de conhecimento”, segundo ela. Para tanto, terá como norteador a escrevivência, termo que criou para definir a escrita nascida do cotidiano, das lembranças, de suas experiências de vida, assim como a de mulheres negras e da população afro-brasileiro.

Para essa troca de conhecimento extramuro da Academia, como diz, a escritora propõe a realização de atividades em três segmentos. Uma delas é na formação de alunos da USP, tendo a escrevivência como aporte teórico de pesquisa em diferentes campos de conhecimento. Outras é capacitação de professores da rede pública de ensino, para que trabalhem o conceito em sala de aula por meio da educação literária. Por fim, a atuação literária com jovens de territórios periféricos, em oficinas de criação para avaliarem como produzem suas escrevivências. 

Dando continuidade às atividades sobre produção cultural das periferias, desenvolvidas pela educadora e ativista social Eliana Sousa e Silva, que foi titular em 2018, Conceição Evaristo também propõe a realização de seminários públicos o mais heterogêneo possível, com a proposta de democratização do conhecimento. Também desenvolverá um produto teórico sobre os temas abordados para dar suporte a pesquisadores das áreas da Linguística, Teoria Literária e Psicologia.

A nova titular

Conceição Evaristo é autora de romances, poesia, contos e ensaios, graduada em letras na Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ e obteve os títulos de mestre em literatura brasileira pela PUC-RJ e doutora em literatura comparada pela Universidade Federal Fluminense – UFF. 

Traz em seus trabalhos a influência da contação de histórias presente no contexto da cultura mineira que vivenciou. Sua obra é considerada uma referência na luta contra o racismo e o machismo no país. A primeira publicação foi aos 44 anos, em 1990, na série Cadernos Negros, do grupo Quilombhoje. É autora de sete livros, entre eles Olhos D’Água (2015), vencedor do Prêmio Jabuti. Cincos dos seus livros foram traduzidos para o inglês, francês, espanhol e árabe. 

Homenageada em 2017 pelo Itaú Cultural com a Ocupação Conceição Evaristo, a autora foi agraciada com o Prêmio do Governo de Minas Gerais pelo conjunto de sua obra, assim como com o Prêmio Nicolás Guillén de Literatura, concedido pela Caribbean Philosophical Association. Recebeu, ainda, o Prêmio Mestra das Periferias, pelo Instituto Maria e João Aleixo, e em 2019 foi homenageada como personalidade literária pelo Prêmio Jabuti.

Sobre a cátedra

A Cátedra Olavo Setubal de Arte, Cultura e Ciência é uma parceria entre o Itaú Cultural e o Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (IEA/USP). Desde 2016, a iniciativa abre espaço para a discussão e a promoção de atividades voltadas para o cenário das artes – com foco na gestão cultural. 

A cátedra elege a cada ano um titular para orientar as atividades. Em 2016, o cargo foi ocupado pelo diplomata Sérgio Paulo Rouanet, sucedido após um ano por Ricardo Ohtake, diretor do Instituto Tomie Ohtake. Em 2018, quem assumiu a posição foi a educadora e ativista social Eliana Sousa Silva, diretora-fundadora da Redes da Maré, e no ano seguinte o curador e crítico de arte Paulo Herkenhoff e a bioquímica e professora Helena Nader, numa titularidade conjunta.

Agora, a escritora Conceição Evaristo assume como a nova titular, após a atuação do antropólogo argentino Néstor García Canclini, que estava à frente da cátedra desde 2020.

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