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“A inovação é o combustível que dá sustentabilidade às periferias”, diz prof. Hélio Santos

Crowdfunding, coworking, Do-It-Yourself são alguns termos que não faltam em qualquer bate papo sobre criatividade e inovação na atualidade.

Todavia, o que pouca gente admite ou sabe é que essa história de financiamento coletivo, escritório colaborativo e o tal do Faça-Você-Mesmo são ações que toda e qualquer pessoa periférica conhece e convive desde cedo.

“A inovação é o combustível que dá sustentabilidade às periferias, que sempre desenvolveram antídoto para se defender do racismo institucional… A periferia é ouro, mas as elites gostam de bijuterias”, lembra o professor Hélio Santos, durante evento de lançamento da Academia de Inovação Política, em Salvador, nos dias 12 e 13 deste mês.

“A maioria das pessoas que estão produzindo tecnologia nos espaços de inovação são homens brancos, classe média, que não reconhecem a produção da periferia, dos espaços populares, como criativa. Coloca como jeitinho brasileiro, mas não considera como inovação. A favela é um lugar bastante inventivo de inúmeras criações coletivas. As pessoas que estão ali criam soluções para resolver situações de ausência do Estado e de escassez”, pontua a jovem Thamyra Araújo da Gato Mídia, projeto de convivência e aprendizado em mídia e tecnologia para jovens de espaços populares.

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Professor Hélio Santos levanta questões sobre como inovar politicamente.

Ana Carolina da Hora, da Preta Lab, também faz coro para a valorização da inventividade daqueles que produzem em meio a inúmeras adversidades. O que não significa uma apologia à pobreza. “Todo mundo tem um avô que conserta qualquer coisa em casa, uma mãe que inova na sua fantasia e você não precisa comprar nada… Esta é uma realidade brasileira, que resumida em cultura maker. Gosto do nome, mas é algo que a gente sempre fez”, considera a carioca que integra a equipe do Olabi, buscando – em meio a invisibilidade estrutural – entender quem são as negras e as indígenas que atuam na tecnologia e inovação no Brasil.

Sendo as periferias relevantes berços de inovações, por que as comunidades – de um modo geral – ainda têm baixo retorno financeiro e ainda precisam lidar com a estigmatização e invisibilidade cotidiana? A resposta não é simples, mas é possível afirmar que diversos motivos ainda se cruzam no racismo institucional, requisitando dos “ditos periféricos” estratégias para superar as consequências de uma uma sociedade racista, em pleno século XXI.

JORNADAS DE RUPTURAS

Usando como referência o livro Jornadas de Rupturas de Tenny Pinheiro, o professor Hélio Santos chama a atenção para a importância estratégica dos novos modelos de desenvolvimento mais abertos, colaborativos e com diversidade.

A ausência de diversidade, inclusive, retroalimenta o racismo institucional em todos os setores, como pontua o professor doutor da Universidade Federal do Recôncavo Igor Dantas. Para o cientista, é urgente pautar o racismo na C&T e criar tecnologias que coíbam/monitorem o racismo. “Se o racismo é um problema e a Ciência e Tecnologia (C&T) resolve problemas, por que a gente não usa essas áreas para resolver problemas da desigualdade social?”, questiona.

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Ativistas e especialistas discutiram estratégias sobre como inovar politicamente, frente aos desafios das sociedades em rede, durante lançamento da Academia de Inovação Política em Salvador.

O co-fundador do Vale do Dendê Paulo Rogério lembra que a potencialização das práticas inovadoras – em estágios diversos – carece também de intensa de discussão sobre o tema inovação política numa visão que leve em consideração a América Latina, respeitando as peculiaridades de cada país.

Neste contexto, surge a Academia de Inovação Política, que terá turma em Salvador, com início previsto para 29 deste mês. O curso é desenvolvido pela Asuntos Del Sur, em parceria com Instituto Mídia Étnica e tem certificação de University of Arizona Center for Latin American Studies. A modalidade será virtual através de uma plataforma online, com encontros presenciais em Salvador. São três módulos teóricos e atividades de laboratório, a partir da metodologia feeling. Inscrições em: https://goo.gl/zG0m9x
Donminique Azevedo é repórter do Portal Correio Nagô.

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