Por meio de suas rádios e TVs, neopentencostais acirram seu discurso de intolerância contra religiões de matriz africana
Foto: Gustavo Marinho
Em marcha, carregando faixas e misturando cantos de louvor com ameaças e incitação ao ódio, um grupo de centenas de evangélicos mobilizou-se na noite do dia 15 de julho e tentou invadir o terreiro de pai Jairo de Iemanjá Sabá, localizado no bairro do Varadouro, em Olinda (PE). As imagens da saída do grupo foram registradas pelo filósofo e babalorixá Érico Lustosa, no vídeo Cristãos agredindo Terreiro de Candomblé , publicado no Youtube.
Em um segundo vídeo-testemunho, também publicado no Youtube pelo Jornal do Commercio , Lustosa lembrou que o grupo gritava “Sai daí, Satanás!” e que ameaças foram feitas por um sujeito desconhecido durante a invasão. “Cuidado porque eu me converti evangélico, mas eu sou ex-matador”, gritava o manifestante. Assustados, tanto pai Jairo de Iemanjá quanto Érico Lustosa se negaram a voltar a falar sobre o assunto.
O fato ocorrido em Olinda não é isolado. A onda de inquisição de grupos neo-pentencostais contra religiões de matriz africana tem crescido no estado de Pernambuco. No primeiro semestre deste ano, foram registradas a invasão e a destruição de sete terreiros de religião de matriz africana no agreste pernambucano. O estopim do acirramento e perseguição aos cultos de matriz africana se deu após o assassinato de uma criança de nove anos de idade, degolada na cidade Brejo da Madre de Deus, também localizada na região do agreste. Logo após a descoberta do cadáver, a polícia veio a público e descreveu o crime como sendo fruto de um “ritual de despacho”. Daí pra frente, programas locais de rádio e TV, policialescos e proselitistas, passaram a insuflar o ódio contra as religiões de matriz africana.
“A mídia não separou o joio do trigo ao associar um crime de uma religiosidade que não tem nada a ver. Essa associação feita pelos programas de televisão policialescos foi só o estopim para as agressões. Mas a gente sabe que os pastores na TV aberta ocupam a casa das pessoas cotidianamente pregando essa intolerância”, afirma mãe