
Produzir música, fazer o trabalho circular, ganhar visibilidade, conquistar espaço e ser reconhecida internacionalmente é um caminho difícil para qualquer artista. E quando agregado às barreiras raciais, sociais e de gênero, os desafios são ainda maiores. Carolina Alcantara, 26 anos, natural do Rio Grande do Sul, vem para inverter essa lógica e quebrar paradigmas. A DJ Carola, como é conhecida, acaba de se tornar a primeira mulher no mundo a lançar uma música pela gravadora STMPD RCRDS, do holandês Martin Garrix.

Apaixonada pela música eletrônica desde adolescente, DJ Carola, mesmo sem dinheiro para investir no seu sonho, aprendeu a discotecarlendo na internet e vendo vídeos no YouTube. Recentemente o site estadunidense EDM.Com destacou o sucesso da artista e a posicionou como uma promessa da música brasileira. O Correio Nagô quis conhecer um pouco mais desse trabalho e o resultado é um bate-papo sobre a cena da música eletrônica e os desafios enfrentados pela artista. Confira!
Como foi a sua trajetória e como se deu essa aproximação com a música eletrônica?
A discotecagem veio em 2012, mas a primeira vez que eu tive um contato com música eletrônica foi em um festival em 2007. Naquela época, eu nem sabia dizer o que eram aquelas músicas que estavam sendo tocadas, mas eu me apaixonei. Não entendia nada sobre o universo e o que aquilo representava. Só que eu sentia que aquele era meu lugar.
Sendo mulher negra num espaço ainda muito reservado aos homens brancos, que obstáculo e situações você atravessou pra chagar até aqui?
Acho que o principal desafio é que as pessoas sempre vão tentar diminuir você por ser mulher. Por mais que você estude, se empenhe e seja muito boa no que faz, sempre vai existir um homem para questionar as suas conquistas.
Como você avalia a receptividade do seu trabalho junto ao público brasileiro? É diferente do público internacional que consome mais música eletrônica?
Acredito que o Brasil, hoje, não perca em nada para o mercado internacional quando o assunto é o consumo da música eletrônica. Nós temos uma cena que cresce a cada ano e acredito que eu esteja conquistando coisas muito significativas, conseguindo dar o tamanho e a importância que eu sempre quis dar ao meu projeto, e o público está abraçando isso tudo. Só é uma pena que estejamos vivendo esse cenário caótico, onde é impossível que existam eventos com a segurança necessária para que a gente tenha também a aproximação com o público na estrada/show.
De que maneira o seu trabalho pode influenciar outras meninas, especialmente negras, a produzirem música?
Quando eu comecei, não tinha nenhuma figura no mercado da música eletrônica que fosse igual a mim, para me inspirar. Acho que vai ser muito legal olhar para trás daqui a 10 anos e ver que as coisas que eu estou conquistando e construindo agora vão influenciar positivamente outras meninas iguais a mim. É muito difícil crescer nesse mercado, mas eu sou a prova de que é possível. Espero que isso encoraje outras pessoas a fazerem parte disso ou a buscarem quaisquer que sejam os seus sonhos.