Por Donminique Azevedo (jornalista e educadora)
Negar o Brasil nunca foi novidade na telinha brasileira.
Quando o assunto é programação infantil, a situação é ainda mais clara.
Falta representatividade.
Recentemente, o SBT lançou o remake Carinha de Anjo e a novela já é sucesso entre meninas e meninos do País.
Carinha de Anjo é uma versão nacional da trama mexicana (“Carita de Ángel”), exibida no Brasil entre 2001 e 2002.
Diversas adaptações foram feitas em relação à história original, inclusive núcleos novos foram criados.
No entanto, a maioria do elenco é branca e a única criança negra aluna do colégio de freiras não tem voz.
No primeiro capítulo – aquele utilizado para apresentar as personagens – a garota não tem nome, não fala e pouco aparece. Não tem papel.
Numa busca pelo site da emissora, na seção “personagem”, a menina negra também não aparece.
Fato é que crianças negras da faixa etária da Carinha de Anjo – personagem principal interpretada por uma criança branca – não contam com representatividade.
Mesmo considerando que outros atores negros participem da novela, a invisibilidade negra no núcleo de maior interesse da audiência infantil (o núcleo infantil) é um problema no processo de construção de identidade de meninas e meninos negros.
Permanece a construção de uma identidade de “branquitude”. Do anjo branco. Da beleza branca.
É imensurável o espaço que os meios de comunicação ocupa na sociedade brasileira.
Assim sendo, a teledramaturgia precisa estar mais atenta, uma vez que os limites entre ficção e realidade não têm fronteiras definidas, principalmente no que diz respeito à infância.
A telenovela não acaba quando o controle remoto é acionado. Pelo contrário, durante os meses que está no ar, desperta interesse e envolvimento através dos vários canais de mídia.
É assunto na escolinha. É um produto à venda, consumido não só por crianças brancas, mas também por negras.
A TV pode e deve ser mais diversa, afinal os danos causados pela difusão de uma história única podem ser irreversíveis.