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A VEZ DA POLÍTICA 2.0 NA AMÉRICA LATINA

Nos últimos quatro anos, o debate político começou a ser contaminado por neologismos e expressões como sociocracia e candidatura-cidadã. Além disso, surgiram os partidos políticos criados por grupos específicos da sociedade – mais conhecidos como partidos de eleitor –, destinados a exercer a política de uma forma inovadora: sem caciquismo e com mais participação popular. Para cientistas políticos e sociólogos, estes fenômenos representam a parte mais visível de um movimento que vem ganhando força com o desencanto em relação à forma tradicional de se fazer política na América Latina.

E quem começou a surfar primeiro nesta onda foram os setores alinhados à centro-direita, de acordo com o cientista político Matías Bianchi. “Em vez de bater nas portas dos quartéis como faziam em outras épocas, os integrantes deste campo optaram por uma nova forma de organização”, diz o fundador da Asuntos del Sur (ADS), uma think tank baseada em Buenos Aires.

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Matías Bianchi

Segundo ele, isso explica, em parte, o surgimento de movimentos políticos independentes de velhas estruturas e que têm surpreendido pelo excelente desempenho nas urnas. “Com discursos positivos e cheios de promessas, estes grupos começaram a disputar espaços públicos organizando marchas, ou optaram por criar partidos políticos”. São caudatários deste processo o Partido NOVO, no Brasil, o PRO, na Argentina, o CREO, no Equador, e o Partido Anticorrupção, de Honduras.

Bianchi destaca que muitas das conquistas da “nova direita” se deveram ao esgotamento do discurso de líderes tradicionais da esquerda, como os sandinistas, na Nicarágua, os bolivarianos, na Venezuela, e os petistas, no Brasil, que se perderam em meio a práticas políticas condenáveis e alianças com inimigos históricos. Resultado. Além de abrir espaço para a oposição, acabaram gerando um grande descontentamento (e por que não dizer, um racha) no campo progressista.

Na avaliação do fundador da Asuntos del Sur, que obteve mestrado na Universidade Oxford, na Inglaterra, e PhD no Institute d´Études Politiques de Paris, ao mesmo tempo em que lideranças históricas de esquerda se perdem na perplexidade, os movimentos populares começam a buscar saídas. “A boa notícia é que esta agenda já está em movimento. Não no estabilishment dos partidos, mas sim nas ruas”, destaca.

A novidade, contudo, não se resume à forma de organização, mas também como é exercido o poder nestas estruturas associativas e partidárias. Em vez do caciquismo e do poder vertical, entra em cena a sociocracia, base da democracia participativa. Segundo ele, quem mais vem apresentando resultados positivos nesta direção são os Wikipoliticos, do México, a Frente Amplio, do Chile, e a Aliança Verde, da Colômbia.

Diante deste quadro, Bianchi, da Asuntos del Sur, destaca que a sobrevivência dos partidos situados no campo progressista vai depender da capacidade de seus líderes em radicalizar a participação popular. “Por virtude, necessidade de sobrevivência ou como estratégia, a esquerda necessariamente terá que voltar a ouvir as ruas”.

Academia de Inovação Política

Para entender ainda melhor o fenômeno das novas formas de participação e atuação política, a ADS acaba de criar a Academia de Inovação Política. Esta divisão será responsável por uma série de cursos destinadas a conectar os agentes políticos e sociais da América Latina. O foco são os jovens e os grupos organizados.

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Os cursos no sistema EaD contarão com dinâmicas apresentadas por especialistas em ciência política, sociologia, ativismo ambiental e digital, baseados nos países da América Latina, além dos Estados Unidos e da Espanha. De certa forma, a Academia funcionará como a ampliação do trabalho que já vem sendo realizado pelo Projeto Mucho con Poco (McP), braço da ADS no relacionamento com os movimentos sociais. O McP é coordenado por Melisa Gorondy Novak, graduada em relações internacionais e com especialização em sociologia.

Em cinco anos, o McP comandou 25 oficinas em 18 cidades da América Latina, incluindo Salvador e Rio de Janeiro, envolvendo cerca de 1,5 mil ativistas políticos e integrantes de grupos comunitários. O foco do McP são as tecnologias de baixo custo e alto impacto social. Uma delas é a ferramenta VOJO, do Instituto Mídia Étnica, de Salvador, focado na promoção da igualdade racial.

O lançamento da plataforma em Salvador ocorrerá nesta sexta-feira na UNIJORGE-Paralela e sábado no Instituto Mídia Étnica. Para participar do lançamento é necessário se inscrever por meio do link: https://goo.gl/s4bRGC.

SOBRE A ASUNTOS DEL SUR

A Asuntos del Sur (ADS), um dos mais importantes think tank da América Latina, acaba de lançar a Academia de Inovação Política, seu braço de cursos EaD para formação de lideranças políticas e sociais na região. A ADS foi criada e é liderada pelo cientista político Matías Bianchi, com mestrado na Universidade Oxford e doutorado no Institute d´Études Politiques de Paris.

Desde sua fundação, em 2007, a ADS já conseguiu reunir uma série de estudos e pesquisas sobre novas formas de participação e ativismo político, na América Latina. Alguns dos exemplos deste fenômeno são os partidos de eleitor (o NOVO, no Brasil, o PRO, na Argentina, o CREO, no Equador, e o Partido Anticorrupção, de Honduras) e os grupos suprapartidários que defendem interesses específicos.

Trata-se de um movimento conhecido como Política 2.0 que, de acordo com Bianchi, se viabilizou graças à disseminação das ferramentas da Tecnologia da Informação e da Comunicação (TIC), com destaque para a internet, além do barateamento dos smartphones.

A atuação da ADS no Brasil ganhou visibilidade a partir das oficinas comunitárias promovidas por seu braço Mucho con Poco (McP) em Salvador e no Rio de Janeiro. Nestes encontros, ativistas e integrantes de grupos sociais trocam experiências de empoderamento popular e aprendem a utilizar as ferramentas de baixo custo e alto impacto. A lista inclui aplicativos (app) destinados a fiscalizar o gasto dos recursos públicos e a ação dos parlamentares, além das plataformas de petições online, que buscam interferir nas decisões governamentais e legislativas.

Saiba mais sobre alguns dos movimentos de Política 2.0 que acontecem na América Latina:

Academia de Inovação Política 

Frente Amplio 

Alianza Verde 

Wikipoliticos 

 

Redação.

 

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