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ADINKRA:UM SISTEMA DE ESCRITA FILOSÓFICO, HISTÓRICO E CULTURAL AFRICANO

                                                                 Lepê Correia

       O Continente Africano é realmente uma caixa de surpresas, principalmente para nós os brasileiros que, como colonizados pelos europeus, temos um imaginário social povoado de distorções em relação à África. Por exemplo, ela é um país miserável, faminto e sem história, onde todos falam a mesma língua, o africano. É lúdica: só tem danças, cantos, feitiços, animais, florestas e desertos.

     Bem senhoras e senhores, meninas e meninos, a África vai além disso! “A distorção da história africana está entre os maiores responsáveis pela perpetuação da imagem dos “negros” como tribais, primitivos e atrasados” (NASCIMENTO, 2008, p. 31), vivendo ainda em grande parte, da oralidade.

    O que uma grande maioria não sabe é que a África é um continente cheio de saberes e descobertas, revelado hoje como “berço único da humanidade arcaica e moderna (com) […] redes sociais complexas […] ao longo de seus quase três milhões de anos de existência” (MOORE-in LARKIN, 2008, p. 11). Seus povos, até hoje, apesar da globalização, preservam sabedorias ancestrais contidas em coisas tão simples, que jamais imaginaríamos estarem ali guardadas, estratégias de sobrevivência e continuidade filosófica de valores civilizatórios. Sim, isso mesmo: significados e intenções oriundos de civilizações milenares.

      Uma dessas jóias ancestrais é o conjunto ideográfico chamado Adinkra, concebido pelos Akan , povo da antiga Costa do Ouro, a atual Gana, que espalhou-se pela Costa do Marfim, Togo e outros países da África Ocidental. Em Twi, língua dos Akan, Adinkra “significa literalmente ‘despedida’, ‘gesto de adeus’”(LOPES in LARKIN, 2009). Cada símbolo, em um número maior que oitenta, carrega um conteúdo não apenas estético, mas incorpora, preserva e transmite “aspectos da história, filosofia, valores e normas socioculturais desses povos de Gana”(Nascimento, 2009), que foi incorporado também pelo povo Ashanti. No Adinkra, o princípio Sankofa tem o significado de “voltar e apanhar de novo aquilo que ficou pra trás”, ou seja, “voltar às suas raízes

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