17/11/2018 | às 19h19
As árvores do Dique do Tororó, Campo Grande, Corredor da Vitória e Pelourinho amanheceram cobertas de ojás, tecidos sacralizados, em pedido de paz, respeito religioso e defesa da democracia. O ato é organizado pelo Coletivo de Entidades Negras (CEN), e teve a concentração no Ile Íyá Omi Áse Íyámase, Terreiro do Gantois.
“Há 12 anos é realizada a Alvorada dos Ojás, quando começou a ficar mais nítidas as ocorrências de intolerância religiosas aos povos de religiões de matriz africana”, disse, em entrevista ao Correio Nagô, Marcos Rezende, coordenador geral do CEN. “Construímos o ato como forma de dizer que continuaremos indo às ruas e retribuiremos ao preconceito com amor, mas também sem recuar”, ressaltou.
Para o coordenador do CEN, este ano a defesa pela liberdade religiosa ganhou um sentido ainda mais relevante diante da militarização da sociedade, que tem se intensificando desde a eleição de Jair Bolsonaro, capitão da reserva. O coordenador lembrou os anos de 1970, tempos de proibição às religiões afro-brasileiras, quando os cultos de matriz africana eram violadas pelo poder militar.
“O princípio da nossa religião é enfrentar as adversidade com atos de respeito”, afirmou Marcos. O tecido sagrado representa a paz e o equilíbrio e é enlaçado nas árvores, também símbolos da religião que valoriza o meio ambiente. “A Alvorada dos Ojás simboliza a exigência de respeito para quem é de Candomblé e das demais religiões de matriz africana”, declarou o coordenador.
Salve Moa do Katendê
“Viva meu Mestre”, “Salve Moa do Katendê”, “Misteriosamente o Badauê surgiu”, são algumas das inscrições nos tecidos brancos feitas pelo artista plástico Alberto Pitta. Mestre Moa, ogan de candomblé, foi violentamente assassinado por um defensor do presidente eleito Bolsonaro, em 8 de outubro deste ano. Moa foi homenageado como símbolo de resistência para os povos de santo.
“Iremos enfrentar a violência que tem sido colocada na ordem no dia. Uma nação deve ser construída com respeito às mulheres, extirpando o câncer que é o racismo e da LGBTfobia, então o tema deste ano faz menção ao Mestre Moa, que não recuou frente a imposição contrária”, afirmou Marcos Rezende.
A cerimônia contou com as apresentações artísticas, como a do mestre de capoeira Alex Santos Muniz, filho de João Pequeno de Pastinha; do Coral Ecumênico da Bahia e o Afoxé Filhos de Ghandi. Ainda em homenagem a mestre Moa, o cantor Gabriel Povoas cantou a canção que leva o nome de Mestre Moa, fruto de sua composição com Sandra Simões e Alfredo Moura.
Marcelo Ricardo é repórter-estagiário do Correio Nagô.
Com supervisão da jornalista Donminique Azevedo