Redação Correio Nagô
Por Taciana Gacelin
A doutoranda Miriam França, 31 anos, foi solta hoje (13/01), pela manhã, após o juiz José Arnaldo dos Santos Soares, da comarca de Jijoca de Jericoacoara, localizada no Ceará, revogar a prisão temporária da farmacêutica. Segundo o jornal O Povo, magistrado declarou que “as contradições apresentadas pela estudante no depoimento não seriam suficientes para a prisão”. José Arnaldo Soares teria afirmado ainda que não existem razões fundamentais para comprovar a autoria ou participação de Miriam no crime e que levou em consideração para o seu parecer a condição da carioca de ter profissão definida, endereço fixo e não ter antecedentes criminais.
Mais de 6 mil pessoas se mobilizaram, durante estes dias, pedindo a liberdade de Miriam. Movimentos sociais em defesa da comunidade negra e da mulher realizaram campanhas em favor da estudante e hoje estão comemorando o acontecimento. A coordenadora dos Direitos Humanos do Centro de Estudo Afro-Orientais da Universidade Federal da Bahia (CEAO-UFBA), Vilma Reis, em sua página pessoal no facebook, agradeceu hoje a todos os envolvidos e envolvidas na luta pela liberdade da doutoranda. “Valeu Jurema Werneck, Lúcia Xavier, Regina Adami, Jeruse Romão, Humberto Adami (advogado de Miriam), Marcos Romão e todas as demais pessoas e organizações que se levantaram no país contra o modus operandi secular do sistema criminal brasileiro, de criminalizar nós negros e negras, transformando a cor negra em delito”, comentou a socióloga.
Para os militantes do movimento negro brasileiro, a acusação feita a Miriam pela morte da turista deve ser atrelada ao racismo institucional. Em entrevista ao G1, a integrante do Instituto Negra do Ceará e do Fórum Cearense de Mulheres, Francisca Sena, afirmou, na última sexta-feira (09), que a discente da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) sofre de preconceito racial. “Existem outras suspeitas, as outras pessoas não estão presas. Há um racismo institucional praticado pela polícia de um modo geral”, disse.
Miriam França foi detida no dia 29 de dezembro como suspeita de assassinar, no dia 25 de dezembro, a italiana Gaia Molianari, que foi encontrada morta na praia de Jericoacoara, local onde a carioca também esteve no dia. De acordo com a polícia, a pós-graduanda foi contraditória no depoimento e, por isso, foi presa. Para os defensores públicos, não houve contradições. “Nós temos esses depoimentos e essas acareações que a delegada Patricia Bezerra utilizou para justificar a prisão. Essas contradições, conforme a delegada, se devem a pequenos detalhes, a dados periféricos que em nenhum momento levam a crer que foi ela a responsável por esse fato”, afirmou a defensora Gina Moura para o G1.
Apesar de ter de volta a sua liberdade, a farmacêutica não tem o direito de sair do Ceará até os próximos 30 dias. Insatisfeitas com a situação, pessoas continuam se mobilizando no caso. “Acabamos de saber que ela foi liberta, porém não podemos nos desmobilizar, pois ela terá que ficar 30 dias no Ceará”, disse uma internauta após saber da notícia.