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Após lançar clipe, cantora baiana de R&B Donna Liu conta o processo de produção

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(Fotos: divulgação)

Redação Correio Nagô – Aos 28 anos, Donna Liu tem um plano para sua trajetória artística: “conquistar pessoas e provar, junto com elas, que aqui em Salvador existe sim, público que compra a Black Music”. Fonoaudióloga formada pela Ufba, a cantora lançou recentemente o clipe da música “Meu alvo”, com direção de Max Gaggino, diretor também do documentário “Menino Joel”. “O artista independente tem o apoio de si mesmo, dos familiares e dos amigos. Fizemos o clipe “com a cara e a coragem”, destaca referindo-se às dificuldades enfrentadas no trajeto. Atualmente morando em Pernambués, a cantora que cresceu nas imediações no bairro de Pau da Lima conversou com o Correio Nagô. Confira a entrevista:

Correio Nagô – É o seu primeiro clipe?
Donna Liu – Sim, é!

CNQuanto tempo levou para ser feito?
Nós levamos um dia pra gravar todas as tomadas. Não sei ao certo o tempo até a edição final, mas, contando com o tempo pra ser lançado, esperamos três meses.

CN – Porque escolheu fazer o clipe da canção “Meu alvo”?
Conheci Max Gaggino (diretor do clipe) através da gravação do clipe de Afro Jhow – Transcendência e me apaixonei pelo seu trabalho. Trocando ideias, contei a ele que era compositora de R&B. Ele ficou curioso pra conhecer meu trabalho, que ainda não estava pronto. Contei-o sobre o título, que é o mesmo da música, daí ele ficou ainda mais curioso. Não é que ele deu um jeito de pedir ao Dj Akani Santana (meu Dj e também produtor musical) para ouvir essa musica? Ele me convidou de imediato: “Liu, ouvi sua música! Precisamos gravar esse clipe”! Em meio à turbulência das últimas eleições, gravamos.

CN – O clipe é gravado em quais partes da cidade? Porque a escolha?
A maioria das tomadas foi gravada no pelourinho (no museu Solar Ferrão e na rua); na praça Castro Alves; no apto de Max (cena do Sushi) e numa loja de vinis super charmosa, que fica na Baixa dos Sapateiros, chamada Bazar Som Três. Foi tudo escolha do próprio Max. Ele viajava e eu embarcava junto!

CN – Teve participação especial. Como foi trabalhar junto com outro artista?
Mr. Dko é meu irmão de sangue e minha alma gêmea musical. Já trabalhamos juntos há anos. Ele já rodou essa cidade toda atrás de mim quando ainda cantávamos em bares aqui em Salvador. Quando ele lançou seu Cd, “Sinceramente”, participei de duas faixas. Além de me produzir musicalmente, junto com Akani, ele me ajuda a arranjar todas as minhas composições. Quando estávamos criando “Meu Alvo”, eu disse: “Dko, eu quero me lembrar do Notorious Big quando ouvi-la”, porque eu já havia decidido que ele iria rimar nela”.

CN Quais as principais dificuldades que enfrentou para fazer o clipe? E na carreira artística?
Bem. Imagino que você já supôs qual seria minha resposta a essa pergunta: a maior dificuldade que enfrentei e enfrento, é a falta de grana. Aqui, o artista independente tem o apoio de si mesmo, dos familiares e dos amigos. Fizemos o clipe “com a cara e a coragem”. A música que executo aqui precisa “furar” barreiras pra ser ouvida. Principalmente o RAP. Precisamos estar o tempo inteiro nos movimentando pra que as coisas aconteçam. Além disso, contamos com o apoio das redes sociais.

CN – Você acha que o artista negro tem mais dificuldade no mercado? Você se define como uma artista negra?
Óbvio que sim! O artista negro ainda sofre com o sistema racista que também abarca o mercado musical brasileiro. Sabemos disso, mas, ficamos “cheios de dedos” quando se trata desse assunto. Então alguém me explique o porquê de nós levarmos muito mais tempo pra conseguirmos maior visibilidade midiática, etc e tal? Ainda mais quando se trata da música RAP, que é essencialmente “a voz do gueto”. Eu sofro, meus irmãos sofrem, mas não nos entregamos! Eu me defino negra; a minha musica me define negra; as pessoas me olham, discernem por si mesmas e me cumprimentam na rua: “e aí negona”!


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Conte um pouco da sua trajetória. Quando começou a cantar?
Comecei a cantar em igrejas, aos treze anos. Sempre tive atração pela Black Music e as bandas com as quais trabalhava também, então, na época, uni o útil ao agradável. Quando saí da adolescência comecei a desejar abrir meus horizontes e fui estudar um pouco mais, daquilo que meus pais me mostravam em casa sobre a MPB. Montei um repertório de barzinho e me joguei. O que durou por volta de 5 a 6 anos. Em paralelo, fazia – e ainda faço – trabalhos como backing vocal; inclusive já cheguei a fazer um zilhão de testes pra várias bandas, renomadas, de axé, daqui de Salvador, mas, ninguém me quis. Incentivada pelo meu parceiro Ceau Brazzil, estudei no Liceu de Artes e ofícios em 2005. Tive a honra de ter como meu maestro Sergio Souto e como professora de canto Manuela Rodrigues, no coral Étnico Musical da instituição. Em 2010 montei um repertório de sambas clássicos – outra paixão minha – com músicas de Assis Valente, Cartola, Batatinha, Baden Powell, Jorge Benjor, Chico Buarque e muitos outros, para compor o projeto “Samba Por um Triz”, que rodou pela cidade por volta de 1 ano. O RAP, entretanto, esteve presente na maior parte da minha vida. Vocês podem ouvir a minha voz em vários trabalhos de RAP daqui de Salvador, por exemplo, no trabalho de Afro Jhow “Sem Luta não há Vitória”, no de Mr. Dko “Sinceramente” , no Cd do grupo Primazia e em músicas soltas como as de Deneshi “Tá tudo Bem”; Mahara “Nossa Bossa”; Daganja – que em breve será lançada – “Família em primeiro lugar”; do grupo Bota Casa Tremer – que também não foi lançada ainda – “Sente Emoção” – e em muitas outras que eu não me lembro agora, ou que ainda virão. Agora eu estou investindo – com o EP que eu vou chamar de “Meu Alvo” – no que realmente corre em minhas veias: O Rhythm and Blues!

CN O canto é sua única forma de sustento?
Não. Sou fonoaudióloga, formada pela Universidade Federal da Bahia no final do ano passado. Estou caminhando pra consolidar essa minha carreira. Para isso, ingressei numa Pós Graduação com ênfase em Voz Profissional – por que será? Também dou aula de canto, numa escola Pública daqui de Salvador mesmo, para crianças do Ensino Fundamental I. Mas ainda é a música que me provêm, na maior parte das vezes.

CN O que significa cantar para vc?
Cantar me faz completa! Não me sinto assim em nenhuma outra situação da minha vida. O palco é a minha segunda casa.

CN – Quais os momentos mais marcantes que já teve na carreira?
Muitos, mas, um em especial: quando cantei no FEMADUM 2011, com Afro Jhow. O público mandou uma energia muito gostosa pra a gente. Eu me arrepiei do começo ao fim da apresentação. Ainda teve a participação do Olodum que me deixou completamente derretida, tocando “Transcendência” junto com a nossa banda. Foi lindo demais! Vocês podem compartilhar dessa emoção no youtube.

598976 521778974501778 1364906176 nCN – Como é ser cantora em Salvador?
Como já citei antes, é gostoso e difícil ao mesmo tempo. Existe um mercado que as pessoas de fora acreditam ser diversificado. Um mercado que é fechado, a meu ver. Entretanto, quando você executa algo diferente do que está na mão dos grandes empresários que existem aqui, você percebe que a questão não é a falta de público e sim de investimento. Herdamos uma personalidade imediatista refletida na forma de lidar com a música, também.

CN – Quais são suas referências musicais? O que gosta mais de cantar?
Tenho muitas referências, mas, as principais brasileiras são: Baden Powell, Jorge Benjor, Tim Maia, Cassiano e Elis Regina. Também adoro cantá-los! Quanto as internacionais, posso citar as minhas musas inspiradoras: Ella Fitzgerald, Billie Holiday e Etta James, bem como James Brow e B. B. King. O reggae também está presente em minha vida e Bob Marley é quem mais me influencia.

CN – Qual é o “seu alvo” para o futuro?
Conquistar um público que compre o meu trabalho. Conquistar pessoas e provar, junto com elas, que aqui em Salvador existe sim, público que compra a Black Music.

CN – Salvador não dispõe de muitas casa de show. Como fazer para segurar a carreira?
O pelourinho já me conhece pelo cheiro! A maioria dos sons que eu e meus parceiros fazemos é porque algumas pessoas como Jussara Santana e Afro Jhow, por exemplo, movimentam esse lugar – principalmente as praças – independentemente da estação do ano. Citei-os porque são os que estão mais próximos de mim, mas existem outros que acreditam nesse lugar, assim como eles. O Rio Vermelho, por exemplo, também é um local bastante explorado pelos artistas independentes.

CN – Quando não está cantando, o que mais gosta de fazer?
Ouvir música. A música me alimenta!

*Por Anderson Sotero

Confira o clipe de “Meu Alvo”:
http://www.youtube.com/watch?v=JXbFp3ajJUY

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