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Ato de apoio à Palestina vira espaço de tensão em Paris

Sábado (26.07), pela segunda vez, uma manifestação em prol da Palestina, que havia sido interditada pela justiça, acabou em confronto com a polícia. Ao contrário da mobilização ocorrida no último dia 19, que também não tinha sido autorizada e já nas primeiras horas de protesto apontou para um clima turbulento, na edição desse fim de semana tudo levava a crer que a ação cívica se constituiria como um encontro pacífico.

Embora por volta das 14h30 já houvesse uma grande quantidade de policiais na Praça da República, local onde aconteceu a mobilização; a presença de associações humanitárias e de famílias inteiras sugeria que a manifestação prosseguiria com tranquilidade.

“Eu estou com meu marido e meus dois filhos, nós somos cidadãos franceses e estamos aqui pela Palestina, para apoiar o povo palestino que sofre atualmente um verdadeiro genocídio, e também para mostrar nossa indignação com o governo francês, que proibiu de nos manifestarmos hoje, e tudo que nós queremos é dizer ‘stop ao massacre em Gaza’; já são quase 1000 mortos”, declarou Samia, francesa de origem

Ao lado da família de Samia, estava a militante Amina com seus companheiros da organização BDS (Boicote, Desinvestimento e Sanções). Eles distribuíam panfletos com as marcas israelenses, que, segundo eles, devem ser cortadas do consumo: “vamos enfraquecer Israel em todas as dimensões, e para isso, precisamos parar de comprar os produtos que eles fabricam”, explicou Amina.

Ela, que fez questão de lembrar que a manifestação, realizada na última quarta-feira (23.07) e para a qual se tinha permissão, transcorreu em paz, mostrou-se convencida de que as milhares de pessoas que estavam na Praça da República não tinham a pretensão de sair pelas ruas. “Acredito que a manifestação vai ser isso aqui mesmo, uma reunião, um encontro para oferecer informações sobre o que está acontecendo em Gaza e pedir que esse terror pare”, opinou.

 

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De fato, os organizadores providenciaram um esquema de contenção dos manifestantes, caso estes viessem a insistir na saída em marcha. Aproximadamente 80 jovens vestiam coletes da cor limão fosforescente, e tentavam manter as pessoas longe dos cordões da polícia, posicionados nas ruas que se prolongam a partir da praça.

Mas, das palavras de ordem, como “Cai fora, Israel; Palestina não é sua” e “Israel, assassino; Hollande (presidente), cúmplice”, a manifestação foi tomando outras proporções, algumas pessoas subiram no monumento fixado no centro da praça, onde queimaram uma bandeira de Israel e, por fim, avançaram em direção aos policiais, desrespeitando o cordão de proteção providenciado pelos próprios organizadores.

As paredes de vidro dos pontos de ônibus foram quebradas, e os cacos, assimcomo pedras e outros objetos, arremessados nos policiais, que reagiram com bombas de gás lacrimogêneo. Vários momentos de tensão e alguns confrontos se desenrolaram, até que no fim da tarde o movimento foi pacificamente dispersado pela polícia, que obrigou os manifestantes a deixarem o local exclusivamente pelo metrô. Não houve feridos.

Os atos de solidariedade à Palestina aqui na França têm feições muito particulares porque o país, que tem a mais numerosa comunidade mulçumana da Europa – são 6 milhões de pessoas, conforme o jornal Libération – também tem a segunda maior concentração de judeus fora de Israel, ficando atrás apenas dos Estados Unidos, e esse quadro demográfico, segundo estudiosos, desde os atentados de 11 de setembro delineia uma linha de tensão entre os dois grupos.

Na França, só se pode realizar manifestações nas vias públicas, desde que se tenha autorização prévia da polícia, e a justiça proibiu duas vezes as mobilizações em prol da Palestina porque sinagogas foram alvo de ataques na primeira vez em que os manifestantes foram às ruas.

 

Texto: Sarah Carneiro

Fotos: Luciano Fogaça

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