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Aya Bass reúne potências de Larissa Luz, Luedji Luna e Xênia França

29/01/2019 | às 18h18

Texto: Guilherme Soares Dias*/Fotos: Heitor Salatiel* 

Projeto resgata cantoras negras da Bahia e coloca nova safra em lugar de destaque

As Aya Bass é a potência da mulher negra. Unindo a nova safra da música baiana – Larissa Luz, Luedji Luna e Xênia França – o projeto pretende resgatar cantoras negras da Bahia e ocupar o lugar de destaque relegado a elas historicamente. Com estilos distintos e carreiras ascendentes, as três cantoras despontam no cenário nacional fazendo um som diferente da axé music comercial, que tanto ressaltou a música negra, mas pouco contemplou as cantoras negras.

Carregando o nome dado às orixás do sexo feminino (yabás), o projeto foi idealizado para o verão de Salvador, o grande momento de efervescência da cidade, e teve estreia no último 26 de janeiro no Festival Sangue Novo, que traz shows de artistas em destaque na música do Nordeste. Larissa, Luedji e Xênia preparam novo show de Aya Bass durante o carnaval soteropolitano, mas ainda não têm intenção de executá-lo em outras cidades ou ao longo do ano. “Vamos digerir tudo que aconteceu aqui ainda”, disse Xênia ao fim do show. Se depender do público, as três devem fazer muitas apresentações do projeto. Afinal, a plateia assistiu extasiada, ora boquiaberta com o que via, ora cantando as músicas mais conhecidas. Enquanto, as três pareciam se divertir no palco, conscientes da força do que estavam produzindo.

Afrontosas. Idealizado por Larissa Luz, diretora artística e coreógrafa do projeto, Aya Bass faz resgaste de cantoras negras e manda um recado para a branquitude e seus privilégios: “a cor dessa cidade sou eu, e vamos ocupar os espaços que nos foram relegados”, como bradou Larissa durante o show. “Querem a música negra, mas não querem os pretos; querem a dança negra, mas não querem os pretos; querem o cabelo dos negros, mas não querem os pretos. Está na hora de fazer concessões, de parar de usar um lugar de fala que não é seu”. E emendou: “preto de alma não existe. Quem é preto é, quem não é, não é. A música preta é nossa, Wakanda é nossa”.

Apresentação. O show começou com uma música leve e que lembra um som de terreiros intitulada “Aya bass” que traz versos “para todas as moças”. Vestidas de branco e acompanhadas por mulheres instrumentistas, Xênia, Luedji e Larissa cantaram também duas músicas de maior destaque de suas respectivas carreiras e entoaram canções de Margareth Menezes, Ilê Aiyê e Timbalada. Do repertório internacional, fizeram uma referência à Destiny’s Child, grupo dos anos 90 composto por Beyoncé, Kelly Rowland e Michelle Williams, em que elas se autodenominaram Nordeste’s Child ao cantar Survivor, “I’m a survivor”, em que pediram para as mulheres negras que estivessem sobrevivendo a alguma situação difícil para ter força, pois o momento passaria.

Além das músicas, o show teve um viés político forte. Uma fala de Tia Má, como a jornalista Maíra Azevedo é conhecida, foi usada para falar da força da mulher negra. Luedji ressaltou a importância do momento em que três mulheres negras compõem, cantam e vivem da sua arte mesmo com todo o apagamento histórico e lembrou de outras cantoras como Mariene de Castro e Márcia Short. “Temos sonoridade e percepção conjunto pelo amor”. Xênia pediu para as mulheres negras não deixarem de ser o que são: “foda”. O adjetivo foi o mesmo usado por Duda Beach, que cantou no mesmo festival, e pelo ator global Fabrício Boliveira, para definir a apresentação. Já Loo Nascimento, fashionista e digital influencer, definiu o grupo: “um show da nossa cor”, disse passando o dedo nos longos braços.

A proposta do show nasceu depois que Xênia e Luedji se encontraram em Brasília e pensaram em fazer algo juntas. No dia seguinte, Xênia foi ao Rio assistir Larissa Luz no musical Elza, sobre Elza Soares, e saiu impactada. “Precisamos fazer um projeto conjunto”, profetizou. Foi quando Larissa tirou da manga as Aya Bass, que já tinha idealizou e em menos de um mês, aproveitando as férias das três na Bahia tudo se concretizou. E quem ainda duvida da força da mulher negra?

Produção independente, enviada de maneira colaborativa para o Correio Nagô

*Guilherme Soares Dias é jornalista, especializado em jornalismo literário. Trabalhou em jornais como Valor Econômico e Estadão. É freelancer, escreve para veículos como Revista Trip e Carta Capital, que publica matérias de seu blog Guia Negro. É editor e um dos fundadores da revista digital Calle 2. E também autor do livro “Dias pela Estrada”

** Heitor Salatiel é fotógrafo, produtor cultural trabalha com estética. Paulistano, apaixonado pela Bahia, se considera soteropaulistano. Tem se dedicado a registrar a cultura negra

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