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“Azeviche”, o álbum de estreia de Ana Cacimba, traz temas como afrocentrismo, feminilidade e afetividade

O álbum “Azeviche”, o primeiro de Ana Cacimba, é guiado por 9 faixas que misturam passado e futuro, fundindo ritmos da cultura popular brasileira e latina com beats e elementos eletrônicos.

Azeviche é uma gema de cor escura, feita de madeira fossilizada, com aparência idêntica a de um carvão, e é considerada uma pedra de purificação e proteção. O registro faz analogias às pedras e aos corpos pretos iluminando temas como força das Yabás (orixás femininos), negritude, afetividade preta, mulheridades, ancestralidade e fé afro-religiosa. “Gravar meu primeiro disco de estúdio é uma grande realização na minha carreira, principalmente por ser uma artista periférica e descendente quilombola, é uma forma de mostrar que é possível e inspirar outras mulheres artistas na mesma situação que a minha”, conta Ana Cacimba.

Foto: Paola Bertani

A artista invoca, como mote da obra, a palavra “aquilombamento”, ou seja, constituir um quilombo que transcenda o círculo territorial e se torne posição social resistente à hegemonia branca. Nesse sentido, a ancestralidade é uma forma de recuperar e atualizar a resistência negra de seus antepassados.

A canção que abre o disco, “Omí Purifica”, composta por Gabi D’oyá e adaptada por Ana Cacimba, traz um oriki (literatura oral) de Oxum recitado pela cantora Anelis Assumpção e fala sobre o poder das águas, principalmente para as religiões de matriz africana. “Omí purifica o Orí” diz a letra: “omí” quer dizer “água”, “ori”, “cabeça”; a água purifica a cabeça, a parte mais importante do nosso corpo. Além dessa, Gabi participa da sexta faixa, “Intuição”, em que ambas, junto ao rapper Winnit, cantam a ancestralidade como revelação do futuro.

“Mamãe Oxum” é uma forma de agradecimento à orixá que a salvou de um afogamento quando ainda bebê.

“Santa Bárbara”, a terceira, versa sobre iluminação e força para seguir em frente quando tudo parece objetado.

“Procissão” evoca as primeiras memórias da compositora e o sincretismo presente em sua vida. “Essa música me leva a um lugar muito especial na memória, as procissões, onde a lembrança que tenho é a de olhar pra trás, do alto do morro e ver apenas as chamas das velas, em noites escuras, onde quase não se viam as pessoas, apenas a chama, o rezo e o canto”. O tema está presente também em “Reza”, última música do disco, em que são feitos experimentos estéticos para traduzir tais memórias.

Sobre “Kianda Sereia”, Ana comenta: “Me lembro de um dia estar conversando com um amigo e fã de Angola alguns anos atrás, que me disse que eu parecia uma Kianda. Eu não fazia ideia do que era, fui pesquisar e descobri que Kianda é uma lenda banto angolana de um ser metade peixe e metade mulher. Então, comecei a escrever essa música, misturando também com a história de Maria Condão, um conto de Cabo Verde que fala sobre uma sereia de cabelo mágico que realiza desejos, e da nossa Janaina, sereia de águas salgadas que dizem ser até a própria Iemanjá.”

“Plural” já tinha sido lançada como single anteriormente num clima de marchinha de carnaval e, agora, leva uma nova roupagem no disco, com elementos da música latina. Canção sobre amor idealizado, romântico, e (como a própria artista nomeia) brega.

A oitava faixa, “Turmalina Negra”, ganha um clipe dirigido por Kadu Borges, diretor do Grammy Latino. A música conduz novamente à analogia entre corpos pretos e pedras preciosas de cor escura (como a turmalina e o azeviche). “O meu papel como narradora da história é misturar a magia das pedras preciosas e a força das Yabás Oyá, Iemanjá e principalmente Oxum, que tem muita presença nesta música e no disco como um todo”.

A produção musical é assinada por Maurício Badé e os arranjos por Marcellus Meireles. O projeto conta com o apoio do Proac e uma equipe majoritariamente negra.

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