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Bahia Street completará 20 anos, emponderando meninas através da educação

ong Bahia Street

“Emponderar meninas através da educação porque nós mulheres negras não temos herança financeira”. Essa sentença foi o ponto de partida para a criação do projeto Bahia Street, no dia 2 de fevereiro de 1996, como relembra a fotógrafa e antropóloga, Rita Conceição, na sala arejada, ao som de crianças rindo e brincando ao fundo, no casarão-sede da organização, localizado no bairro do Dois de julho, Centro de Salvador. Rita criou o Bahia Street em parceria com a também antropóloga norte-americana, Margareth Wilson, para, através do conhecimento, facilitar a ascensão socioeconômica, política e cultural de meninas em situação de vulnerabilidade social.

Cerca de 20 anos depois, o Bahia Street atende 36 meninas, estudantes de escola pública, com idades entre 6 e 17 anos, no período da tarde, posterior às aulas. Durante a rotina diária, essas meninas aprendem lições de higienização pessoal, recebem alimentação balanceada e reforço escolar, paralelos às aulas de capoeira, inclusão digital e língua estrangeira, sempre com direcionamento no processo de identidade racial, questões de gênero e autoestima feminina. Algumas atividades vão se alternando de acordo com o profissional disponível, que contribuem voluntariamente para instituição. “Trabalhamos com profissionais voluntários. Agora elas estão tendo aula de alemão. Se no próximo semestre aparecer alguém que fale francês, espanhol ou outro idioma, a gente insere as aulas no cronograma”, explica Rita. Ela apresenta a estrutura do prédio, construído aos poucos, “trabalho de formiguinha”, arquitetado para funcionar durante todo o dia. “Geralmente as pessoas me perguntam por que não atendemos nos dois turnos.  Porque não temos verbas para isso. É impossível montar duas equipes sem apoio financeiro”, diz.

A instituição, que foi premiada com o “The World of Children”, da UNICEF, em 2008 e o selo Lélia Gonzalez, pela Secretaria Especial de Promoção da Igualdade Racial, SEPPIR, em 2014, reconhecimento inédito em todo o estado da Bahia, passa, atualmente, por dificuldades financeiras. Condições que comprometem a manutenção do projeto para 2016. “Vou saindo, procurando, batendo de porta em porta para continuar o trabalho de forma digna, respeitosa”, projeta.

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Realização

O Bahia Street foi criado com a idéia de ser um centro de referência da mulher negra, cunhado em exemplos de atitudes social e política, como as irmandades da Boa Morte, na Bahia e de Nossa Senhora das Mercês, no estado de Minas Gerais. “Se nós conseguimos resistir todo esse processo de exclusão e de escravidão foi porque em algum momento a gente se uniu”, afirma a antropóloga. Rita fala sobre a alta estatística de mortalidade da população negra na sua maioria, mas reforça que a saída é praticar e não só avaliar números e utilizar discursos prontos. “Se uma menina, duas ou três, que a gente transforma, dá dignidade e respeito, me traz a sensação de dever cumprido”, completa.

Dever cumprido na vida de Lívia Nascimento, estudante de Gestão de Recursos Humanos, ex- aluna da Bahia Street e atualmente gerente administrativa da organização. “Me interessei em entrar aqui [Bahia Street] quando tinha 11 anos porque não tinha onde ficar à tarde”, conta a estudante que voltou para estagiar no Ensino Médio e foi efetivada como funcionária. “A ONG me deu a base para entrar na universidade”, garante a jovem. Egressa da Bahia Street e também contratada com estagiária, a estudante do ensino médio, Samara Bonfim, enumera o que recebeu de ensinamentos. “Aprendi a me respeitar, respeitar os outros, a minha cultura, a dos outros. E deixar de lado a questão do preconceito, no sentido de que não me afete negativamente”, lembra.

Para quem quer conhecer mais sobre o Bahia Street e quem sabe se tornar um voluntário, a organização fica na Rua do Sodré, Dois de Julho, Centro de Salvador. E o site é: bahiastreet.org.br


Confira abaixo a reportagem sobre os 20 anos do Bahia Street, produzida pela TV Correio Nagô:

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