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Bando de Teatro Olodum inicia 5ª Oficina de Performance Negra

“Revolução Preta e Feminista”. Dia Internacional das Mulheres Negras Latino-Americanas e Caribenhas foi tema de aulas inaugurais 

 

Na última terça-feira (16/07), o Centro de Cidadania e Cultura de Pirajá, no bairro de Pirajá e o Cine Teatro Solar Boa Vista, no Engenho Velho de Brotas, em Salvador, foram palco das palestras de abertura da Oficina de Performance Negra, realizada pelo Bando de Teatro Olodum. Ministradas pela socióloga Vilma Reis e pela promotora do Ministério Público da Bahia Lívia Vaz, as palestras abordaram o tema “Dia Internacional das Mulheres Negras Latino-Americanas e Caribenhas”, comemorado em 25 de julho.

Tendo como público jovens negras e negros, em situação de vulnerabilidade socioeconômica, a Oficina de Performance Negra está em sua quinta edição, e traz em sua ementa noções de teatro, dança e música, além de memória e identidade do povo negro. Todas as aulas serão ministradas pelos veteranos atores e atrizes do Bando de Teatro Olodum.

Thallia Anatália, 20, está participando pela segunda vez da Oficina e tem boas expectativas com o projeto. “Como mulher preta, poeta de buzú, atriz, eu não poderia perder a oportunidade de ver o tema das mulheres negras na perspectiva desse Bando de Teatro que me forma, e que admiro tanto. A minha expectativa é trazer isso para o corpo e para voz, com respeito e com a honra que o tema merece”, revela a jovem.

O rapper e poeta, Erique Reinan, 27, ver a formação como um quilombo moderno e entende que “essa troca de saberes podem nos levar muito longe. A revolução começa num aglomerado de gente querendo reivindicar algo. Nesse caso, nós somos esse aglomerado de gente negra. O meu sonho é fazer parte do Bando! Atuar é o que quero pra mim”, conclui o jovem.

Revolução Preta e Feminista

Em sua aula inaugural, a socióloga Vilma Reis trouxe a contribuição intelectual de negras e negros, apresentando livros como o Insubmissas Lágrimas de Mulheres, de Conceição Evaristo, e o Cadernos Negros, de diversos(as) autores(as), além de textos como o Manifesto de Mulheres Negras da Bahia.

Vilma destacou o potencial criativo da juventude de Pirajá, um dos bairros que recebe a oficina, e o papel transformador do Bando de Teatro Olodum. “A coisa principal dessa potência, que é o Bando, é a transformação que ele promove dentro da cidade de Salvador. São mais de 25 anos transformando através do teatro. Seguir a trilha do Bando de Teatro Olodum, nesta oficina e em outros espaços, é realmente assumir uma agenda política e uma cultura antirracista. É se comprometer com a luta pelo direito de estarmos no teatro, e utilizarmos de toda essa potência nos palcos e nas ruas”, aponta a socióloga.

A promotora Lívia Vaz trouxe em sua fala três processos de apagamento histórico que a pessoa negra ainda vivencia no Brasil: o embranquecimento, a criminalização e a coisificação, focando nos impactos da intersecção das opressões de raça e gênero na vida das mulheres negras.

“Na pirâmide social, as mulheres negras estão abaixo dos homens negros, acima vem as mulheres brancas e os homens brancos, no topo. É por isso que Ângela Davis diz que ‘quando uma mulher negra se movimenta toda sociedade se transforma’ … a revolução será preta e feminista”, afirmou a promotora.

Três décadas

O Bando de Teatro Olodum completará 30 anos em 2020, com mais de 30 espetáculos no repertório. Para Valdinéia Soriano, atriz, produtora e coordenadora do projeto, o Bando de Teatro Olodum é mais que uma companhia de teatro, é uma escola formadora de cidadãos e cidadãs. “É muito mais que ser ator e atriz, é a formação do ideal de negritude, é ser questionador, é aprender a ler nas entrelinhas”, revela a atriz.

A Oficina de Performance Negra é um projeto contemplado no Edital da Secretaria Estadual de Promoção da Igualdade Racial – Sepromi: Bahia 2019 Década Afrodescendente.

A mostra final da Oficina de Performance Negra está prevista para o mês de  setembro, quando as alunas e os alunos irão se apresentar no palco do Teatro Vila Velha, além de realizarem mostras em suas comunidades.

Texto: Adriele do Carmo, relações públicas e produtora cultural, publicado em 17/07/2019

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