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Beleza Negra do Subúrbio, Evaneide Soares, supera os racismo com simpatia e autoestima

Beleza Negra do Subúrbio, Evaneide Soares, supera os racismo com simpatia e autoestima

Beleza Negra Suburbio
“Uma vez ela perguntou assim: Qual é a chance de uma bailarina negra no Brasil ser reconhecida? Então alguém lhe respondeu: Nenhuma, querida. Independentemente do talento, da vocação, das habilidades físicas, uma bailarina não pode sonhar com o mais alto posto por causa da cor da sua pele. Muitas vezes camuflado por outras denominações, a ausência de bailarinas negras nos altos postos das grande companhias de dança nada mais é do que o racismo”, trecho de um texto escrito por Evaneide Soares, 18 anos, coroada, na último domingo (29), como a Beleza Negra do Subúrbio no II Festival das Periferias Viva Sua Quebrada.

A segunda edição do Festival das Periferias é a culminância do Curso de Produção Cultural e Cultura Digital, organizado pela Cipó Comunicação Interativa com o financiamento da Petrobrás. O curso formou 20 jovens, no período de dois anos, através de mapeamentos, oficinas de fotografia, vídeo, design e redes sociais. O curso incluiu a produção e divulgação do evento final, encerrado pelo concurso Beleza Negra do Subúrbio, que consagrou como referência estética os jovens Zayi Araújo e Evaneide Soares.

Beleza Negra Suburbio foto

Além de estudar Automação Industrial no Instituto Federal da Bahia (IFBA), Evaneide é bailarina e dança há seis anos. Ela escreveu esse depoimento baseado em uma entrevista que leu, e incluiu a sua vivência por ter sentido na pele a marca do racismo, aquela que fere a estética e ceifa os sonhos. “Era a única estudante de cor preta, então, as minhas colegas me olhavam diferente por causa da cor da minha pele, era excluída dos exercícios, principalmente quando eram em dupla. Na época isso me magoou tanto que cheguei a prometer que nunca mais iria dançar ballet”, contou a jovem ao Portal Correio Nagô. Mais do que isso, Eva – como os amigos a chamam – pensou que aquele não era o seu lugar. “Por um bom tempo fiquei com aquele pensamento de que ballet era dança para gente branca, até porque na mídia era muito difícil ver uma bailarina negra, de pele escura”, confidenciou.

A coisa mudou em 2009, com o Ballet Esperança, projeto voltado para jovens da periferia, localizado no bairro de Paripe, onde Eva viu a possibilidade de alcançar seus objetivos e superar as críticas negativas. “Me sentia bem ao ver tantos outros jovens igual a mim”, disse. Após dois anos no Esperança, ela passou a dar aulas para outras meninas na própria escola e em outras escolas, particulares e pública.

No quesito autoestima, a postura da menina que vive com os avós, o irmão e uma tia em Itacaranha, também no Subúrbio, é uma excelente referência e exemplo a ser seguido, mesmo após as cicatrizes que o racismo acaba deixando. “Eventos como o Beleza Negra do Subúrbio servem para reafirmar a estética da mulher negra, especificamente a mulher negra periférica”, diz depois de revelar que sempre sonhou em fazer um ensaio fotográfico, ou ser parte do cast de alguma agência de modelos.

Antes de encerrar a conversa com o Correio Nagô, Eva deixa uma reflexão importante sobre superação do racismo, a estética e o lugar da mulher negra. “Está tão enraizado de que o negro deve ser submisso, que quando se vê um negro assumindo alto posto, as pessoas se incomodam. É preciso valorizar a imagem do negro, a imagem da mulher negra. Nós, mulheres, precisamos ser respeitadas e ser valorizada sim. O fato de morar na periferia nos faz sofrer um racismo muito grande. Tá na hora do povo da periferia desconstruir essas imagens, mostrar que aqui não é só violência, violência acontece em qualquer lugar”, conclui a jovem.

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