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Biblioteca Comunitária Zeferina-Beiru é palco de resistência quilombola

12/07/2018 | 16h57

Referência para a comunidade do Arenoso, o quilombo educacional Biblioteca Comunitária Zeferina-Beiru é um sonho coletivo. O espaço, antes subutilizado, tornou-se local de livre aprendizagem, a partir de ações de líderes comunitários que transformaram o antigo local abandonado e cheio de lixo em um centro comunitário.

Zeferina e Beiru foram lideranças negras que viviam no território do Cabula e entorno no século 19. A rainha Zeferina, no quilombo do Urubu e o Beiru no quilombo consagrado com seu nome.

A escolha do nome foi pela importância histórica desses heróis pouco reconhecidos, mas, principalmente, pela semelhança das moradoras de hoje com a rainha quilombola, que habitou a região anos antes.

“Ela [Zeferina] representa muito bem a questão sócio-demográfica da região, porque a maioria das famílias aqui são lideradas por mulheres que por conta de vários motivos, têm baixa escolaridade e recebem até 1 salário mínimo. São mulheres guerreiras  como Zeferina”, afirma o psicólogo e idealizador do projeto, Diego Santos Lima.

Quilombo Educacional

Como todos os quilombos, a história da  Biblioteca Comunitária Zeferina-Beiru envolve muita resistência. Uma luta que começou com o desejo de Diego Santos Lima, idealizador do centro comunitário, em retornar os conhecimentos adquiridos no ambiente acadêmico para a sua comunidade. O início da biblioteca foi em 2013. Ele reuniu amigos que acreditaram na ideia e juntos ocuparam o galpão abandonado, dando início ao projeto educacional.

“O espaço estava cheio de lixo. Ele foi construído no final da década de 70 para ser um espaço cultural, mas como acontece com todas as políticas públicas virou um elefante branco [obra pública sem utilidade].  Apareceu a doação de alguns livros, e pensei que o caminho poderia ser pela literatura”, contou o psicólogo.

Hoje o espaço recebe atividades propostas por moradores e parceiros, como a terapia de grupo para obesos, os mutirões comunitários para  dar continuidade a manutenção do espaço e os eventos que trazem alguma renda para a biblioteca, como as edições do Bazar da Deusa, com a Deusa do Ébano de 2017, Gisele Soares.  

Os moradores que se envolvem nas atividades do centro podem auxiliar na horta, aprender capoeira, boxe, fazer parte das rodas de diálogos. Completamente autônoma, a biblioteca conta com o apoio da comunidade para os mutirões de limpeza e reforma, as crianças também passam a se sentir responsáveis pela manutenção do espaço.

Educadores sociais do presente

As crianças são muito presentes na Biblioteca Zeferinas-Beiru.

“Eles são tudo pra mim, uma família que me ensina um bocado de coisa, quem não sabe aprende”, disse Jorge de Jesus Santos, 11.

Foto: Natali Yamas

Adriana, 10, dividiu parte do seu aprendizado na biblioteca.

“Depois que eu comecei a vir para biblioteca, eu descobri que ler é muito bom.  Eu não conseguia ler na escola, ficava com vergonha quando tinha trabalho, e minha vida mudou porque agora quando a professora chama eu vou”. Ela demonstrou o poder transformador das vivências em espaços com representatividade. “Tem um livro, Bukala, e quando eu comecei a ler eu me via, era a minha imagem ali e foi muito bom”.

Beatriz Almeida é repórter-estagiária do Portal Correio Nagô.

Com a supervisão da jornalista Donminique Azevedo.

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