Para o Movimento Negro o cabelo crespo é uma representação de resistência que se deu, principalmente, na década de 60 através movimento Black Power (tradução livre Poder Preto), nos Estados Unidos. A ação deu vida a uma série de protestos contra o racismo, nos quais pretos e pretas saiam nas ruas com seus cabelos naturais. O nome do movimento foi criado por Stockley Carmichael, um militante estadunidense, que após sua 27º prisão anunciou “O que vamos começar a dizer agora é poder negro!”. A partir disso o uso do cabelo crespo penteado para cima ficou conhecido como Black Power.
Entretanto, mesmo com tantas manifestações, alguns pensamentos permanecem iguais. Pessoas brancas, com traços finos, olhos claros e cabelos lisos sempre foram a referência ou símbolo de beleza no Brasil. Essa ideia estabeleceu uma inferiorização da beleza negra, que perdura até hoje, principalmente quando o tema é cabelo.
Recentemente uma adolescente foi vítima de ataques racistas no aplicativo TikTok, por conta de seu cabelo. Nicole Cristina, de apenas 15 anos, começou a usar a rede social para mostrar o seu dia a dia. Desde então recebe comentários racistas, disfarçados de “preocupação”, alguns sugerem que cuide mais de seus cabelos, enquanto outros são mais agressivos, comparando suas madeixas a uma esponja de aço.
Entre a população negra, uma das principais formas de resistir as imposições da sociedade eurocêntrica, indo além da estética, é se libertar químicas ou tratamentos para alisar o cabelo. Este não é um caso isolado e não será o último, a beleza dos nossos é frequentemente questionada e rebaixada. Crianças e adolescentes pretos crescem em um mundo ainda racista.
Em algumas situações de racismo, é possível obter um desdobramento positivo. Já que só podemos combater um inimigo quando ele aprece para lutar. Podemos destacar o episódio do BBB 21, que trouxe à tona a discussão sobre enxergar cabelos crespos como desarrumados e sujos. Na ocasião, o participante Rodolffo comparou o Black Power de João Luiz a uma peruca de homem das cavernas. Foi nesse momento que a blogueira e participante do reality, Camilla de Lucas, conseguiu passar uma mensagem importante para os telespectadores do programa: “O meu próprio cabelo é parecido com o do João, eu uso esse alongamento porque eu estou em transição, estou tirando uma química do meu cabelo para deixar igual ao dele (…), é justamente para trazer de volta o que é meu, que por anos eu aprendi a odiar o meu cabelo, o que vem de mim, o que vem da minha família”, desabafou a influencer, em rede nacional.
No mundo atual em que a informação é acessível a todos, não há espaços para ações racistas, a beleza negra é diversa e não deve ser medida conforme o ponto de vista da branquitude. Como diz Chico César, “Respeitem meus cabelos, brancos!”.
Maira Passos
Com supervisão de Valéria Lima