Redação Correio Nagô
O desfile do bloco carnavalesco Domésticas de Luxo, de Minas Gerais, gera descontentamento da comunidade negra. Desde 1958, fantasiados de mulheres negras, homens saem exibindo suas “fantasias” pelas ruas de Juiz de Fora. A jornalista do Portal Fórum Jarid Arraes define o bloco como um “show de horrores”. “O [bloco] consegue reunir racismo e machismo numa mistura perversa que está a serviço de uma parcela altamente privilegiada da população. Esse espetáculo tem a cara do Brasil; um país extremamente racista, que trata os cidadãos negros como objetos de escárnio, coisas sem valor, sem o status de seres humanos e sem direito ao mínimo respeito”, afirma em texto publicado no Fórum.
Jarid Arraes faz também uma crítica à matéria intitulada “As pretinhas mais famosas de Juiz de Fora”, publicada pelo jornal Tribuna de Minas. De acordo com ela, o veículo “respaldou” a prática racista. “Quais pretinhas? Os homens brancos que utilizam estereótipos relacionados às mulheres negras como válvula de escape para expressar todo o racismo que escondem nos demais dias do ano?”, indagou. Para a jornalista Naiara Leite, é um absurdo este tipo de “reprodução” feita pela mídia. “Esta situação [do racismo] tem sido naturalizada e como é carnaval, ‘que tudo pode’, as manifestações acontecem de forma bastante agressiva. Em casos como estes, as mídias acabam subalternizando as comunidades negras”, pontuou.
A jornalista do Portal Fórum defende que o bloco deve ser fechado e as pessoas que participam do Domésticas de Luxo devem ser “responsabilizadas”. “Nenhum argumento em defesa desse bloco pode ser aceito, nem mesmo o fato de que o bloco promove doações de sangue ou de leite materno. Nenhuma ajuda pode ser oferecida a um grupo se isso é feito às custas da degradação de outro grupo. As mulheres negras reais têm direito de “cair na folia” com a garantia de que serão respeitadas”, comenta.
A antropóloga e doutoranda da Universidade de São Paulo (USP) Renata Freitas acredita que esse tipo de comportamento não pode ser visto como homenagem. Existem pessoas que acreditam que podem se fantasiar de forma caricatural de negras e que estão valorizando certos grupos. “Não há nada de homenagem nisso”. Negro não é fantasia”, conclui. Filipe Martins, em post divulgado no facebook, diz que “esse pessoal que acha ‘brincadeira inocente’ é o mesmo que fica indignado quando estrangeiros fazem piada dos brasileiros em episódios dos Simpsons, em vídeos no youtube… ou quando nos barram em aeroportos simplesmente por sermos brasileiros. Afinal, a dor só dói quando estamos do lado da vítima, afirma.
A redação do Portal Correio Nagô tentou entrar em contato, por telefone, com o Bloco das Domésticas, mas, até o fechamento da matéria, não conseguiu falar com nenhum responsável pela entidade.
Minas Gerais – No município de Juiz de Fora não há um órgão especializado para atender questões referentes ao racismo. Em 2010, segundo dados do Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mais de 53% da população mineira se autodeclarou negra, mas o racismo ainda continua presente na região. Em 2013, a cada uma hora, a polícia de Minas Gerais denunciou um caso de racismo. No total, no estado, foram registradas 147 casos naquele ano.