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CABELO AFRO, TRANÇAS E ANCESTRALIDADE: UM PROCESSO DECOLONIAL

Sempre que falamos sobre a autoestima de pessoas negras, pensamos em nossos cabelos e o que de fato ele representa para nossa comunidade. Por séculos o cabelo afro e suas diversas formas de penteado eram símbolo de má reputação, essa ideia é uma construção da colonialidade e racismo. Entretanto, conforme seguimos a nossa luta de reconhecimento social, nos aprofundamos em nossa ancestralidade, reconhecendo beleza e amor em nós mesmos.

Uma das formas de reconhecimento próprio está na aceitação do seu cabelo, este é um processo que cresce diariamente dentro do movimento negro. Agora voltar no tempo, para o período anterior à escravidão, e lembrar de quando éramos reis e rainhas em África, a nossa história não começa na dor.

O nosso cabelo e penteados vão além da estética e da resistência, em uma África pré-colonização a expressão de identidade através de tranças era muito comum, ainda hoje encontramos povos que seguem as mesmas tradições. As tranças representam a particularidade de cada povo, podem simbolizar fertilidade, classe social, função política e até estado civil.

A trança, ao contrário do que muitos pensam, não é uma maneira de esconder o cabelo natural, trançar o cabelo é uma herança passada de geração em geração, como forma de manter acesa a nossa ancestralidade. O ritual da trançagem é como nos conectamos com aqueles que vieram antes de nós, nos dando força para continuar nossas lutas diárias.

No Brasil um movimento estratégico criou a ideia de dor e feiura em nossas tradições, silenciando a beleza que nos pertence. Não podemos deixar que nos calem, não cabemos nas caixas padrões que a sociedade racista criou, somos mais do que a imagem negativa que tentam impor.

Digo com propriedade que a aceitação do cabelo crespo e cacheado e o uso de tranças é um caminho sem volta para o amor próprio, quando finalmente nos olhamos no espelho e enxergamos o que nos foi negado por tanto tempo, um alívio nos invade. A expressão através de penteados está no nosso sangue, não há como negar.

Maira Passos
Com supervisão de Valéria Lima

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