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Calincka Crateús, a menina dos olhos de canoa que desbrava tempestades

Por Joyce Melo*

A menina dos olhos de canoa superou a morte em vários formatos, por diversas vezes. Apenas 26 anos, mas na bagagem histórias de violência e depressão. Seu nome é Calincka, e segundo seu avô que é índio, significa “alguém que é protegido ou mantém proteção em algo ou alguém”. Seu Sobrenome é o nome da cidade de Ceará, onde seu avô estava quando precisou registrar os filhos, Crateús.

CALINCKA CRATEÚS - FACEBOOK (1)Escrever é uma das formas encontradas pela jornalista pernambucana para externar as vivências. Dona do blog “Toda Linda de Valentino”, formada em jornalismo pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB), em Juazeiro (BA), Calinkca é autora do livro-reportagem denominado “A Menina dos Olhos de Canoa: Relatos sobre bullying e superação”.

Dentre as páginas do livro as memórias tristes perpassam a escrita poética e lírica. Ler seus escritos é como flutuar com os pés no chão. É reviver junto com ela as piadinhas e a violência em torno do seu cabelo, do seu corpo e das suas formas que não se adequam ao padrão eurocêntrico. É, muitas vezes, reconhecer-se nos seus relatos. Ler o seu livro é não conseguir parar no meio. É, assim como eu fiz, maratonar cada página aguardando ansiosamente o porvir.

É pesar pela perda da irmã Camilla Crateús, aos 14 anos. Viu seus pais tristes e sua casa melancólica após o acontecido. Teve chicletes grudados e talcos arremessados no seu cabelo. Foi esmurrada por um garoto, aos onze anos, enquanto outras crianças riam ao redor. Vivenciou em seu período escolar as mais diversas cenas de terror. Mas também amou, viveu um relacionamento de 4 anos numa conexão de amor e afeto entre Pernambuco x Minas Gerais. Passou na UNEB em 2010. Fez amigos de verdade, mais que meros colegas de faculdade.

A jornalista Maíra Azevedo apresentou o livro de Calinkca à Fátima Bernardes

A jornalista Maíra Azevedo apresentou o livro de Calinkca à Fátima Bernardes

Ela tem muito pra ensinar. Porque teve que aprender muito e na marra Aprendeu com as idas e vindas, perdas e reconquistas, sofrimentos e superações. Encarou e processou seus agressores. Aprendeu a não permitir que nenhuma situação se transformasse numa cruz, pois decidiu não carregá-las mais. Em uma “Carta Aberta a Camilla Cratéus”, ela agradece à proteção de sua irmã. Mas, para quem vem superando a morte desde de quando era um feto, há alguém que além de protegê-la, assim como disse sua mãe, também cuida para que ela cumpra sua missão. Em sua própria afirmação ela diz: “Eu ficarei viva e prometo que todo apoio que obtive será recompensado com a militância e ajudando outras pessoas”.

*Repórter do Portal Correio Nagô.  

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