Cecília Cadile e Gisele Matamba são irmãs e empreendedoras negras. Com sorriso no rosto e discurso político potente, as duas constituíram o Instituto Matamba, empreendimento especializado em Serviços Afro.
Inspirada na mulher de luta que foi a Rainha Nzinga de Matamba, as irmãs, assim como Nzinga, buscam superar o machismo e o racismo ocupando o espaço que lhes é de direito. “Nzinga conseguiu vencer, ela foi uma líder estratégica e política e a gente entende que é o nosso lugar, é o lugar da mulher negra”, justifica Gisele.
Com esse poder de impulso e força, o Instituto conquista cada vez mais olhares encantados com suas amarrações e mais homens e mulheres negras desejando fazer uma cerimônia ancestral de alto nível.
SIM, TEM MERCADO!
Realizar um evento dos sonhos sem estresse e preocupações é o que todos queremos. Gisele e Cecília alinham a este desejo a possibilidade de ser mais um momento de exaltação da identidade afro brasileira.
Para tanto, realizam todo o trabalho de decoração, degustação e receptivo na modalidade africana em seminários, cerimônias, palestras, casamentos etc. Agregando também serviços de moda afro personalizada que são os turbantes e as amarrações.
Em casos como casamentos, o Instituto, além de cuidar de todos os detalhes do evento, desde a comida servida até a decoração, também cuida para que os noivos estejam ainda mais lindos, com torços bem armados se adequando aos significados que os povos africanos atribuem às amarrações, de acordo com cada uma das ocasiões.
ÁFRICA PRESENTE
O trabalho realizado pelas irmãs Matamba estampou a capa do catálogo “Conceito AV”, número 19. Com a temática “África: um lugar dentro de nós”, as cores e estampas dos tecidos que formam turbantes altos e amarrações afro representam o trabalho ancestral, engajado, consciente e profissional do Instituto Matamba.
TECENDO HISTÓRIAS
“A ideia do instituto começou lá em Brasília, fomos fazer um trabalho, chegando lá nós começamos a usar nossos turbantes e amarrações, como temos o costume, e aí acabou atiçando a curiosidade do pessoal, e as pessoas perguntando se fazíamos oficinas e daí nasceu o Instituto Matamba”, contou Cecília Cadile
E foi assim, usando suas amarrações em Brasília que surgiu pessoas interessadas em aprender e as irmãs interessadas em ensinar. A partir disso, da percepção da necessidade de haver um negócio voltado para pessoas negras nasceu este empreendimento especializado em serviços afro.
“O Instituto Matamba tem o berço de ONG, pois, houve um projeto quando eu tinha 16 anos, e Gisele 14 anos, logo quando a lei 10.639 começou a ser inserida e nós fomos beneficiadas por esse curso”, explica Cecília. “Nessa ONG a gente aprendeu a estética das amarrações, dos turbantes, tinha também os cursos de receptivo, decoração, culinária e foi o que começou a dar ferramentas pra gente trabalhar” argumentou Gisele.
Conscientes da importância de disseminar conhecimento e valorizar a cultura e estética afro, as irmãs Matamba já desenvolveram oficinas em várias escolas públicas de Salvador e do interior da Bahia. E Cecília acrescenta: “A gente visitou e pôde fazer esse trabalho graças a um projeto chamado Odara Dudu”.
O Instituto Matamba é um dos afro empreendimentos que ocupam o Ujamaa, primeiro coworking (escritório colaborativo) para afroempreendedores do Brasil. O espaço integra a Casa do Mídia Étnica, localizada no bairro do Dois de Julho, centro de Salvador. Mais informações podem ser obtidas pelo e-mail: institutomidiaetnica@gmail.com
Joyce Melo é repórter do Portal Correio Nagô.