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Coca-Cola divulga linha de investimento para comunidade afro-brasileira

 

Pioneiro no oferecimento de curso pré-vestibular para o acesso de estudantes oriundos de escola pública ao ensino superior, já tendo contribuído para o ingresso de mais de 2 mil novos universitários, o Instituto Cultural Steve Biko chega aos seus 22 anos de fundação com duas importantes metas: a concretização da sede própria e a criação da Faculdade Steve Biko. Ambos os sonhos, almejados não só por seus diretores, mas pela comunidade negra do Brasil, ganharam em 2014 um importante reforço, que pode tornar mais viável a efetivação desses objetivos.

O Instituto Steve Biko é uma das organizações que serão beneficiadas pelo investimento de R$ 5 milhões que a Coca-Cola Foundation e Coca-Cola Brasil farão em projetos de inclusão socioeconômica de afro-brasileiros, com foco em educação, cultura e comunidade. Com esse aporte, a multinacional espera que suas ações, envolvendo a população afrodescendente, impactem diretamente cerca de 100 mil pessoas nos próximos três anos.

“Precisamos investir em nossos talentos. Nossos jovens têm potencial para contribuírem  para o desenvolvimento que o Brasil está vivendo. Para isso precisamos combater o racismo, que tem historicamente organizado a pobreza nesse país”, conclamou Lázaro Cunha, um dos diretores do Instituto Steve Biko.

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Lisa Borders, VP Global da Coca-Cola, Joe Beasley (Joe Beasley Foundation), Lázaro Cunha (Steve Biko) e Xiemar Zarazúa, presidente da Coca-Cola

 

Provocação – O anuncio do investimento foi feito no último dia 14 de janeiro, na sede da empresa, no Rio de Janeiro, com a presença de autoridades políticas, artistas e representantes de organizações sociais de combate ao racismo e promoção dos direitos humanos. Partciparam da atividade a ex-governadora do Rio, Benedita da Silva, o cineasta Joel Zito Araújo, o presidente do Fundo Baobá, Hélio Santos,  o vereador Silvio Humberto, os atores Antônio Pompeu e Nando Costa, a diretora do Geledés, Sueli Carneiro, o diretor da revista Raça, Maurício Pestana, entre outros.

Uma das presenças mais aclamadas foi a do ativista afro-americano, Joe Beasley, decano da luta pelos direitos civis dos negros e provocador do processo que culminou com esse aporte. Estimulado pela consultora de projetos, também afro-americana, Mable Ivory, Beasley procurou a Coca-Cola, em Atlanta, para questionar o fato de que diferentemente do que ocorre nos Estados Unidos, onde projetos em favor da população negra são comuns, no Brasil muito pouco era feito por parte das empresas em relação à promoção econômica dos afro-brasileiros. Após a reunião, os executivos da Coca-Cola concordaram em começar os diálogos para a criação desse programa pioneiro, que incluirá a criação de um fundo voltado para iniciativas culturais da comunidade negra.  A ideia é que agora a Coca-Cola inspire outras empresas a fazer  o mesmo.

Além do Instituto Cultural Steve Biko, alguns dos outros projetos que serão beneficiados pelos investimentos da Coca-Cola são: o Instituto Feira Preta,  que é a instituição responsável pela maior feira negra da América Latina, a Feira Preta, que acontece em São Paulo, a ONG SerAlzira de Aleluia, que há dez anos realiza ações socioeducativas no Morro do Vidigal (RJ) e o jornal comunitário Voz das Comunidades, sediado no Complexo do Alemão (RJ), que inclusive usará a verba para reconstrução da redação, destruída por um incêndio em 2013.

O Voz da Comunidade e o Instituto Mídia Étnica prestarão consultoria para o Coletivo Coca-Cola, que desde 2009 promove a geração de renda a partir de treinamento técnico e acesso ao mercado, em mais de 550 unidades espalhadas pelo Brasil com o impacto em mais 70 mil pessoas.  A ideia é que agora seja criado o Conexão Coca-Cola, projeto que levará o tema da comunicação comunitária para centenas de comunidades em todo o Brasil com tópicos que vão desde o audiovisual à comunicação digital.

A Coca-Cola ampliará também o apoio que ocorre desde 2005, à ONG Afrobras, que mantém a Faculdade Zumbi dos Palmares (única faculdade negra do Brasil), e realiza anualmente o Troféu Raça Negra. Os recursos deste fundo devem ser usados para beneficiar a instituição agora com a possibilidade de ampliação das vagas na Faculdade por meio de bolsas de estudo.

 

Marco histórico

Esse é o primeiro programa de investimento privado anunciado por uma empresa multinacional voltado para a comunidade negra brasileira. O presidente da Coca-Cola Brasil, Xiemar Zarazúa, considerou a data do anuncio um “dia histórico” para a empresa. “Esse aporte de R$ 5 milhões se soma aos esforços que a empresa vem fazendo com foco no desenvolvimento da comunidade afro-brasileira. A Coca-Cola acredita demais na diversidade e tem apoiado diversos projetos no Brasil, como esse enfoque.”, afirma o executivo mexicano que preside a empresa desde 2008.

Além de bolsa de estudos  e apoio institucional a organizações, o programa prevê um fundo para projetos voltados a economia criativa. A ideia é que um edital seja lançado para que qualquer organização negra em todo o Brasil possa acessar esses recursos, de modo a fortalecer diversas iniciativas em todo o país.  O edital, que ainda não tem data de lançamento, tenta suprir a lacuna de investimentos na comunidade negra. Dados do Grupo de Institutos Fundações e Empresas (GIFE) mostram que  o investimento social privado no campo da igualdade racial é bastante baixo se comparado a outras áreas.

 

Mulher negra coordena ações sociais da Coca-Cola pelo mundo

Todas as ações da Coca-Cola Foundation, que desde a sua criação em 1984, já investiu mais de US$ 650 milhões em iniciativas comunitárias sustentáveis ​​em todo o mundo, são coordenadas por uma executiva que carrega em sua trajetória as experiências necessárias para a consciência do impacto dessas ações na transformação social. Lisa M. Borders, vice-presidente da Coca-Cola Company e presidente da Coca-Cola Foundation é uma reconhecida executiva afro-americana. Como ela própria fez questão de destacar: “tive dois avôs com trajetórias distintas, um trabalhou durante 30 anos na Coca-Cola e o outro dedicou a vida à luta pelos direitos humanos. Portanto, sei da importância do diálogo entre essas duas esferas. Não existe economia sustentável, sem comunidades sustentáveis”. Lisa M. Borders foi presidente da Câmara Municipal e vice-prefeita de Atlanta. Além disso, atuou por mais de 15 na área de saúde, tendo presidido a Fundação de Saúde Grady, braço de captação de recursos do maior hospital público da Georgia.

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Joe Beasley, Xiemar Zarazúa e Lisa Borders

Somente no primeiro trimestre de 2013, a Coca-Cola Foundation doou US$ 36 milhões para 105 organizações comunitárias. Entre as ações estão o combate ao trabalho infantil na China e a construção de banheiros para as meninas nas escolas da Índia. No Brasil, os estudos apontaram para a necessidade de ações de combate ao racismo e promoção econômica dos afro-brasileiros. “O Brasil é uma das nações mais miscigenadas do mundo. Ainda assim, existem profundas disparidades de renda, educação e emprego. Acreditamos que nosso financiamento vai ajudar  mudar o destino econômico de centenas, se não milhares, de estudantes afro-brasileiros que buscam uma educação melhor”, afirmou Borders.

Outras empresas – Para Mable Ivory, fundadora da Ivory Global, que atuou na concepção da iniciativa com a Coca-Cola, “Os Afro-brasileiros formam o segmento que mais cresce na classe média. As empresas precisam perceber que o investimento nesta comunidade não é somente  a coisa certa a fazer, mas também é um bom negócio a realizar. Se as empresas mostrarem respeito com os consumidores negros, elas vão receber um retorno poderoso do seu investimento”.

Os ativistas envolvidos nesse processo pretendem provocar uma segunda etapa de diálogo com enfoque em outros elementos como a maior diversificação do corpo de executivos da empresa e a participação de empresas de  afrodescendentes na cadeia de fornecimento de produtos e serviços como acontece em muitas empresas dos EUA onde empresários negros conseguem incentivos para produzirem produtos para as grandes multinacionais.  A ideia é que essa ação com a  Coca-Cola sirva de modelo para que outras empresas privadas brasileiras e estrangeiras invistam na diversidade e no empoderamento econômico da comunidade negra.

 

Texto: André Santana
Com colaboração de Paulo Rogério
Fotos: Rogério Resende

 

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