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CONSCIÊNCIA NEGRA: Jovens falam sobre identidade, racismo e resistências

16/11/2018 | às 16h26

Para enfrentar o processo de exclusão histórico da população negra no Brasil, a luta antirracista produziu novos espaços de lutas. Com isso, o entendimento sobre os impactos do racismo chega cada vez mais cedo. Se por um lado a juventude negra continua sendo as maiores vítimas letais das violências, jovens negrXs têm descoberto ferramentas de enfrentamento e de afirmação.

Refletindo sobre este contexto, na última edição do Projeto Redação Itinerante (14), um grupo de jovens baianxs discutiram estratégias de estar e permanecer em uma sociedade desigual.

A estudante de Comunicação Social, também colunista da Revista Carta Capital, Brenda Cruz lembrou como a infância é um momento marcante e como o racismo atua na formação de pessoas negras. “Eu pedi para minha mãe alisar meu cabelo para ficar igual minhas colegas brancas da escola que já tinham namoradinhos e eu ainda não”, descreveu.

Os primeiros anos escolares de Brenda foi dentro da rede particular de ensino. Brenda lembra que seus pais trabalhavam muito para mantê-la na escola, mas os estereótipos que são dado às pessoas negras não deixavam de chegar durante esse período. “Meus pais faziam questão de garantir merenda e mesada, mas as pessoas esperavam que eu fosse a menina preta da escola particular que não tinha dinheiro para nada”, declarou Brenda.

Assim como Brenda, Mariana Gomes, estudante de Jornalismo, também contou de suas experiências na escola particular quando morou em Aracaju (SE). “Minha família é toda de pessoas negras. Quando eu estava entre meus primos, eu me sentia mais à vontade, pois quando eu voltava para a sala de aula eu tinha toda a tensão porquê eu seria tratada como uma criança negra”, destacou.

Consciência Negra

O ambiente escolar sempre apresentou muitos desafios na vida de todas as presenças do encontro, pois além lidar com a aprendizagem era preciso conviver com o racismo. Marina Barbosa, graduanda em Medicina, pela Faculdade de Medicina da Universidade Federal da Bahia, contou como foi chegar à universidade.

Remanescente de povos quilombolas, Marina é do quilombo de Quenta Sol, em Tremendal (Ba), contou que uma das principais dificuldades eram os trabalhos que deveriam ser realizados em gruposna Universidade. “Logo no primeiro semestre, meu professor disse que iria ter de me trocar de turma para ver se algum grupo me aceitaria”, relatou. Marina ingressou na faculdade em 2012 e está prestes a formar.

“Eu fiquei 6 meses internada no Complexo Hospitalar Universitário Edgar Santos (HUPES), pois adoeci por conta do racismo, o que implicou no meu atraso em formar”, contou Marina. “O problema é porque não se trata de uma discussão frontal, mas vem cheio de sutilezas. Senti tapas sequenciados me dizendo ‘acorde que você é negona!’, contou Marina. 

Udi Santos, médica veterinária e rapper do grupo baiano Visioonarias, também relatou como percurso universitário a pôs de cara com o racismo estrutural. Ela revelou que foi perseguida durante todo curso, mas que enfrentou diversas barreira para mostrar para outras pessoas negras que é possível e importante acessar espaços como o Ensino superior.

Luta Antirracista

Diante das experiências, os jovens também falaram sobre como estão atuando para trazer um novo horizonte para as questões raciais em seus contextos. “Tenho me cuidado. Tenho procurado aprender como eu posso ser feliz todos os dias, como eu posso cuidar do meu corpo. Minha militância é mostrar que eu estou bem diante disso tudo. É bom estar viva e eu quero ter isso como consciência negra”, disse Hellen Nzinga, coordenadora do Mídia Etníca Lab.

Brena, também rapper da dupla Visioonarias, contou que decidiu voltar a estudar como uma de suas estratégias.  “Eu venho de uma periferia na Baixa Fria de São Caetano em que as pessoas morrem todo dia. Mas eu tenho procurado entrar em contato com as crianças dizendo que existe uma saída, eu vou nas escolas e converso com elas parece algo pouco, mas esta tem sido minha estratégia”, afirmou Brena.

O relações públicas Lucas de Matos relatou como a militância mudou sua vida, mas que é preciso observar as ações para sua eficácia. “Quando a gente entra para a militância a gente acha que está todo mundo inteirado com nossa linguagem, aí quando alguém diz algo para além disso, a gente já chega com ‘o que você disse racista? Não passará, não me representa’. Eu fui percebendo que existem formas de lidar melhor com isso”, descreveu.

VEJA COMO FOI O REDAÇÃO ITINERANTE

 Marcelo Ricardo é repórter-estagiário do Correio Nagô.
Com a supervisão da jornalista Donminique Azevedo
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