23/12/2018 | às 12h40
Não é fácil fechar a conta de 365 dias do ano no coração dos familiares que tiveram sua história interrompida em apenas um. A violência contra a população negra é um dado que risca a linha da vida constantemente e é ressaltada pelas nervuras em elevação das estatísticas que tecem histórias que seguem impunes. Segundo o Atlas da Violência 2018, homicídios contra a população negra dobrou referente aos brancos.
O material produzido pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), em parceria com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), apontou que homicídios contra brancos são 16 por 100 mil habitantes, enquanto a taxa contra negros é de 40,2, que equivale a 71,5%. A desigualdade de mortes violentas por raça tem se acentuado nos últimos dez anos, de acordo o estudo, a vitimização da população negra aumentou em 23,1% em 2016.
O Atlas também evidenciou que sete estados com maior número de homicídios são da região Norte de Nordeste, a Bahia aparece com 46,9%. Outro dado que se destaca no documento é morte violenta de jovens negros. Em 2016, 33,5 mil jovens foram assassinados registrando um dado maior de 7,4% referente ao ano anterior. Em 20 estados, incluindo a Bahia, o destaque negativo cresceu em torno de 20%.
Outro fenômeno que teve destaque negativo foi a taxa de homicídios contra mulheres, sendo maior entre as mulheres negras que entre as brancas. A diferença é de 71%. Em 2016, para as mulheres negras houve um aumento de 15,4% enquanto houve uma queda de 8% para mulheres brancas. O assassinato da vereadora Marielle Franco se soma às estatística crescentes contra população negra que seguem impunes.
285 dias: quem mandou matar Marielle?
O assassinato de Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes estremeceu o País por ter sido impetuosamente planejado que aconteceu no centro da capital do Rio, e ter interrompido a vida da vereadora, mulher negra, da Favela da Maré, que lutava por direitos humanos. O assassinato ocorreu em 14 de março e já se somam 285 dias sem a resposta de quem mandou matar Marielle.
Protestos organizados em diversos estados aconteceram nos dias seguintes ao assassinato de Marielle. No Rio de Janeiro, o protesto organizado por mulheres em frente a Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (ALRJ). Em todo país, artistas e intelectuais prestaram homenagens a vereadora, como Elza Soares e Karol Konka. O ato se estendeu em protestos em outras cidades do mundo.
Em junho quando o crime completou três meses, o ministro da Segurança Pública Raul Julgman declarou que a elucidação do crime estava seguindo parâmetros como do pedreiro Amarildo Dias, que desapareceu após abordagens da polícia militar na Favela da Rocinha, em 2013. No entanto, o curso da investigação mudou diversas vezes, superando o período declarado. A Procuradoria-Geral abriu procedimento para federalização do caso, mas a promotoria descartou o procedimento, assim como outras medidas foram dispensadas pela política.
Oito meses após, a Anistia Internacional divulgou um levantamento com informações veiculadas publicamente sobre o caso apontando questões graves que até hoje não foram respondidas. (confira o documento). Cerca de nove meses depois, o caso segue em aberto. Familiares de Marielle e ativistas continuam lutando para que a barbárie não seja esquecida ou que permaneçam sem respostas.
Das poucas vezes que me falta a voz. Chocada. Horrorizada. Toda morte me mata um pouco. Dessa forma me mata mais. Mulher, negra, lésbica, ativista, defensora dos direitos humanos. Marielle Franco, sua voz ecoará em nós. Gritemos.
— Elza Soares (@ElzaSoares) 15 de março de 2018
Marcelo Ricardo é repórter-estagiário do Portal Correio Nagô.
Com a supervisão da jornalista Donminique Azevedo.